Tony Ramos celebra trabalho com elenco majoritariamente negro
Esqueça todos os personagens que você já viu interpreta. O veterano ator de 74 anos, no auge de seus 59 de profissão, segue surpreendendo. E será com uma cabeleira, mascando palito e até fazendo as unhas que ele vai aparecer na série “Encantado’s”, mais uma original do Globoplay.
A série é fruto da primeira oficina de humor para roteiristas negros, realizada pela Globo. Na produção, que estreia na sexta-feira, 18 de novembro, ele vive o bicheiro Madurão, inimigo dos irmãos Olímpia e Eraldo, protagonistas interpretados por Vilma Melo e .
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O personagem tem o desejo de comprar o terreno onde fica o supermercado da dupla para construir ali um cassino clandestino. Para isso, conta com a ajuda de seu comparsa, Ceroto (Leandro Ramos).
Além dos serviços sujos do rapaz, Madurão tem outra estratégia: tenta se infiltrar na família por meio da mãe de Olímpia e Eraldo, Dona Ponza (Dhu Moraes). Enquanto Olímpia quer distância do homem, Eraldo morre de medo dele e invariavelmente cede a seus caprichos e pressões.
A história é toda ambientada no bairro do Encantado, na Zona Norte do Rio. No supermercado, de dia, funciona o comércio. À noite, o local vira a quadra da escola de samba “Joia do Encantado”.
Criada Renata Andrade e Thais Pontes, com redação final de Chico Mattoso e Antonio Prata, “Encantado’s” tem 11 episódios e está totalmente finalizada desde o último mês de agosto. A produção traz ainda no elenco nomes como Neusa Borges, Dhu Moraes, a ex-The Voice Ludmilla Anjos, , , Digão Ribeiro, , entre outros.
Em entrevista à OFuxico, Tony contou detalhes do trabalho e destacou a importância de sua participação, como homem branco numa produção majoritariamente preta.
Confira!
OFuxico: Você não faz TV desde 2018, quando atuou em “”. O que te fez voltar nesta série?
Tony Ramos: Quando me convidaram, quando li o roteiro, toda a sinopse e falei: ‘Quero fazer parte desse momento, com essas jovens autoras’. A série tem um elenco de primeira, uma história brasileira e principalmente com uma manifestação de sonhos de que é possível sonhar, obviamente falando de ganância, de inveja, de situações que a dramaturgia tem que mostrar porque elas existem no mundo.
OFuxico: Mas esse hiato teve algo motivo específico?
Tony Ramos: É bom dar uma ‘descansadona’. Eu tinha muita coisa pra fazer. Tinha que lançar um filme (‘45 do Segundo Tempo’), tinha que gravar a série, que foi muito trabalhosa, e depois tinha que me preparar para a futura novela, essas coisas todas. Deu tempo pra tudo.
OFuxico: Com toda a sua experiência, o que você destaca nesse novo trabalho? O que, de fato, foi a motivação pra aceitar?
Tony Ramos: Imagine uma família de pretos que nasceu e cresceu no subúrbio, com o pai deles que sempre teve uma pequena quitanda e um dia consegue ter um lindo supermercado. É bonito na série mostrar que os sonhos são possíveis e não podemos ter distinção de raça, cor, credo, nada.
OFuxico: Então foi a questão da realização do sonho que o motivou, o fato de mostrar que é possível…
Tony Ramos: Fu convidado em fevereiro e tive uma reunião. O diretor achou que eu não ia aceitar e falei: ‘Você tá maluco! Quero fazer parte desse momento da minha história, da história da TV Globo e da alegria que é ter esse elenco capitaneados pelo Luiz Miranda, que é um brilhante ator e comediante e pela Vilma Melo. Aliás, quem se diz muito religioso e tem preconceito, não é religioso. Não é cristão, não é nenhum tipo de religião. A série vai falar muito sobre isso.
Comédia é a melhor maneira de você espiar o ridículo do ser humano”.
OFuxico: O elenco, a equipe, todos os envolvidos são, majoritariamente, pretos. Como você vê esse panorama?
Tony Ramos: Quis fazer essa história porque é fundamental mostrar que não é cor de pele que vai nos diferenciar.
OFuxico: O que o público pode esperar desse bichero tão diferentão?
Tony Ramos: Não existe ruinzinho ou bonzinho com ele. Há momentos em que vão achar um cara bacana e em outros, um horror. Como o ser humano muitas vezes é. Muita gente quem diz isso, aquilo, não é o que prega. A característica dele é de um brasileiro que deu certo na vida. Começou com uma borracharia, que virou post de gasolina, tem fábrica de gelo, anota bicho, até que cresce om olho no negócio dos irmão e exerce o poder da grana querendo sufocar o espaço deles.
OFuxico: É um vilão?
Tony Ramos: A palavra vilão é muito mal empregada. Quem é vilão? Às vezes você conhece uma pessoa que comete um ato de vilania e você fala: ‘Nossa, nunca esperava isso dele’. Muitas pessoas são assim, mas o ser humano está acostumado ao vilão de capa e espada, daquela época em que a pessoa era como a bruxa malvada da Cinderela. Essa é uma vilania clássica e vale também, mas prefiro a vilania das atitudes contraditórias e surpreendentes, atitudes negativas de uma pessoa. É aí que você conhece o verdadeiro ser humano.
OFuxico: Qual a sua expectativa em relação ao público?
Tony Ramos: A gente não tem garantias. A gente tem sempre que ter prazer em contar uma história. É fundamental o texto, é por aí que começa uma narrativa. Começou-se um novo momento. Como vai ser o futuro? Essa especulação não compete a nenhum de nós, que vamos apenas começar o processo. A série leva à reflexão. É isso o que me moveu, é isso o que me move na profissão, aos 74 anos: caminhar com bons textos, bons projetos.
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