Restart arrasa em show de despedida e ressalta o ‘amor ao emo’ no Brasil
Uma das maiores surpresas na música brasileira em 2023 com certeza foi o retorno do movimento Emo (gênero musical nascido na década de 1980 focado em uma sonoridade melódica com expressão emocional nas letras, fossem românticas, emotivas ou reveladoras sobre sentimentos) com bandas que fizeram sucesso no país nos anos 2000 e 2010, que acabaram entrando em longas pausas de anos e voltaram todas este ano em reuniões e despedidas.
Entre as que mais chamam atenção nesse sentido, com certeza são NX Zero, que está ; Cine, que farão os últimos shows da banda no festival Replay, que ocorrerá em novembro no Novo Anhangabaú, em São Paulo; e , a grande estrela desse texto.
Em uma turnê de despedida, , a banda fará shows ao longo dos próximos meses, ou seja, final de 2023 e início de 2024, em diversas capitais brasileiras, e eles optaram por estrear a tour em São Paulo, , na zona oeste da capital paulistana.
OFuxico foi convidado e teve a oportunidade de cobrir a segunda apresentação do comeback do grupo, que ocorreu nesse domingo, 08 de outubro, enquanto a primeira aconteceu um dia antes, e abaixo falará um pouco de como foi a performance do Restart, e depois relembrará a história e importância da banda na indústria musical e até na moda brasileira.
COMO FOI O SHOW?
Com a segunda data também esgotada, os fãs estavam em polvorosa, e foi chegando o horário da apresentação e os gritos de “começa, começa, começa” ecoaram por todo o Espaço Unimed. Uma luz piscando no logo da banda era suficiente para todos irem à loucura, e quando a contagem regressiva começou para o pano cair, ninguém mais estava nessa realidade. Um adendo que quando a cortina desceu, a contagem começou novamente, e aí sim os quatro integrantes subiram no palco com pompa e circunstância.
Primeiro single da carreira, “Recomeçar” foi responsável por abrir a performance, já mostrando do que o grupo era capaz com seus espectadores presentes, que cantaram cada sílaba com toda força e coração, e isso se repetiu por praticamente todo o show, mas quando as maiores canções, como “Menina Estranha”, “Matemática”, “Vou Cantar” e “Happy Rock Sunday”, estavam tocando, a “força” aumentava exponencialmente.
BANDA COMPLETAMENTE EMOCIONADA
Os quatro integrantes estavam claramente emocionados com o show e o carinho dos fãs, e demonstravam isso a todo momento. “Antes de qualquer coisa, queria deixar um beijo no coração de todos vocês. Tem sido muito incrível revisitar toda essa nossa história, e nossa, pois a gente escreveu em parceria com todos vocês que estão aí embaixo. Encontramos vários rostinhos conhecidos, e também é muito legal dar oportunidade de várias pessoas verem isso ao vivo. Acima de tudo divirtam-se, desfrutem, essa festa aqui é para vocês”, declarou Pe Lanza.
Durante o momento acústico do show, Pe Lu disse: “Esse momento lembra muito nosso início, em que os quatro levavam violões para o intervalo do colégio, nos sentávamos na mesa e tocávamos as músicas que a gente curtia, e depois o que viriam a ser nossas primeiras músicas. Nesses momentos, cresceu nossa amizade, nasceu nossa conexão e amor pela música, e arrisco dizer que foram nesses momentos que nasceu a Restart”.
“No processo de criar esse show, essa turnê, a gente se reconectou muito com esses momentos, o porquê a gente faz música, porque fazemos música juntos, e como estamos no clima que lembra muito esses momentos, também queríamos que vocês se reconectassem com esses primeiros momentos que vocês tiveram contato com a Restart, ouviram uma música, fizeram algum amigo, que lembrem dos seus amores que ficaram, dos que já foram e abriram espaço para novos amores. É para se conectar quando tudo começou”, concluiu o vocalista e guitarrista do grupo.
MOMENTOS MARCANTES
Voltando a falar do repertório, os maiores hits da banda estiveram presentes além dos já citados, mostrando que de fato era para “reviver” todo o amor que sentiam pelos artistas e suas obras, e dificilmente alguma música marcante ficou de fora. Para este que vos escreve, “Cara de Santa” fez falta, mas não impediu que a conexão com o que era performado acontecesse de maneira profunda e intrínseca, e a energia do show foi surreal.
Por fim, mais dois destaques dessa noite que entrou para a história: “Esse Amor em Mim”, em que uma fã, chamada Jennifer, foi escolhida por Pe Lu para receber uma homenagem com a faixa, com ele e Pe Lanza cantando diretamente para ela, e até simulando um “pedido de casamento”.
“Levo Comigo”, maior hit da carreira do Restart, encerrou a apresentações depois que eles deixaram o palco quando terminaram “Lembranças”, com o público chamando-os de volta. Primeiro, Pe Lu cantou sozinho com os fãs no piano, e depois a banda inteira entrou para concluir tudo, com a emoção dominando 1000%.
INÍCIO E HISTÓRIA DA BANDA
Formada por Pe Lu (vocais e guitarra), Pe Lanza (vocais e baixo), Thomas (bateria) e Koba (vocais e guitarra), a banda de pop rock paulista conquistou um legado imensurável durante os anos que esteve na ativa, entre 2008 e 2015, quando ocorreu a pausa para retornarem nesse final de semana.
Os quatro amigos eram estudantes da mesma escola e formaram inicialmente a banda “Morning Glory” para um concurso de talentos. Com o tempo, passaram a ser C4 e a bombarem em plataformas como Youtube e MySpace, rede social dedicada a interagir e conhecer novos artistas. As informações são do perfil do grupo no Spotify.
Já apostando na estética e personalidade emo, eles foram inspirados por bandas como Fresno e NX Zero, já em alta na época, mas em 2009, acabaram se reinventando e adotando uma sonoridade pop rock e teen pop, além de uma estética mais colorida, e então o Restart nascia oficialmente, adotando um mix de estilos intitulados por eles como “happy rock” (“rock feliz”, em tradução livre), ou seja, um rock emo mais animado que o habitual. Na época, assinaram com a Radar Records.
Com o sucesso só aumentando, acabaram por expandir os horizontes, regravando alguns de seus hits em espanhol, atingindo países como Argentina, Uruguai, Colômbia, México e Espanha. Em 2011, foi lançado um livro com depoimentos de fãs e respostas a perguntas, com o título “Coração na Mão”, da jornalista Fátima Gigliotti, pela editora Benvirá.
Ainda, houve a produção de um longa intitulado como “Restart: O Filme”, previsto para ser lançado em 2012, que contaria a história real da banda com elementos de ficção. Todavia, o projeto foi cancelado pelo grupo por “não ser prioridade”, pois eles estavam negociando para apresentar o “Estação Teen”, game show da RedeTV!.
FIM DA BANDA E REUNIÃO DE DESPEDIDA
A banda seguiu em atividade, com lançamento e shows, até 2013, quando ficaram em inatividade por dois anos, anunciando em 2015 que haviam encerrado os trabalhos, pegando seus fãs de surpresa com o fim do Restart, que parecia vir de forma inesperada.
De acordo com entrevista dada este ano para a Folha de S. Paulo, o fim do grupo ocorreu pelos membros estarem “fatigados” (cansados) após tanto sucesso e uma jornada musical exaustiva desde a formação, e queriam respirar novos ares, principalmente mais frescos. Thomas chegou a não tocar bateria por anos.
Entretanto, quando os quatro se reuniam para “pôr o papo em dia” ano passado após a pandemia do coronavírus, surgiu a vontade de tocarem juntos mais uma vez: “A gente passou por um processo de reconexão. De nós como adultos e como banda. Quando o grupo pausou, tínhamos 25 ou 24 anos. Hoje a gente tem 32 ou 31 anos”, disse Pe Lu à Folha de S. Paulo.
“Nesses oito anos que se passaram, vivemos coisas diferentes. Não tem como a gente fazer exatamente o que fazíamos. Tentamos abraçar a personalidade nova de cada um, que vai estar expressa nas roupas, mas de um jeito que ainda pareça Restart”, prometeu Koba na época sobre os shows.
GRANDES HITS E DISCOS
Ao longo da carreira, o Restart lançou três álbuns de estúdio (“Restart”, “By Day” e “Geração Z”) e um DVD/Disco ao Vivo (“Happy Rock Sunday – Ao Vivo”), com “Restart” sendo Disco de Platina com mais de 100 mil cópias vendidas, enquanto “By Day” e “Happy Rock Sunday – Ao Vivo” foram Disco de Ouro com mais de 50 mil cópias vendidas. Ao todo, possuem mais de meio milhão de discos vendidos.
Entre os singles de mais sucesso, “Levo Comigo” acabou se tornando um “dos grandes hinos da música brasileira”, tendo um impacto colossal que perdurava até os dias de hoje mesmo com a banda em inatividade. Destaque ainda para os sucessos “Recomeçar”, “Pra Você Lembrar”, “Vou Cantar” e “Menina Estranha”, fechando as canções mais conhecidas do grupo.
Em relação a prêmios, chegaram a ganhar 20 das 43 indicações que receberam ao longo da carreira, nas mais variadas cerimônias, como “Capricho Awards”, “MTV Video Music Brasil”, “MTV Europe Music Awards”, “Meus Prêmios Nick”, “Prêmio Multishow de Música Brasileira”, “Prêmio Globo de Melhores do Ano”, “Prêmio Jovem Brasileiro”, “Prêmio de Música Digital”, “Troféu Imprensa” e “Troféu Top TVZ”.
IMPACTO NA MODA
Com dissemos acima, Restart é um fenômeno não só com suas músicas, mas também com influência na moda e no comportamento de milhares de fãs engajados, com presença massiva, especialmente no universo virtual. O quarteto rompeu diversos padrões com a estética e trouxe debates sobre rótulos sociais arcaicos e vazios que comumente eram associados a eles.
Muito dessa moda revolucionária dentro do rock e movimento emo brasileiro eram os looks compostos por roupas coloridas, principalmente as calças, casando com a proposta de “happy rock” que a banda adotou, e sempre eram associados a visuais multicoloridos e vibrantes, que acabou se tornando algo único. Destaque para os óculos grandes e chamativos.
Vale lembrar que, em 2011, com o lançamento do álbum “Geração Z”, que apostou em uma sonoridade mais diferenciada dos outros projetos musicais, eles adotaram um visual futurista, com as cores dourado e prateado em destaque, mantendo as roupas vibrantes e chamativas ao mesmo tempo que encontrava uma nova estética para inovar o grupo.
Para já citada entrevista com a Folha de S. Paulo, o Restart confirmou que a estética colorida permeará a turnê de despedida “Pra Você Lembrar”. Ainda, é importante lembrar que a estética colorida fez o grupo ser alvo de comentário de cunho homofóbico, mesmo que os quatro se assumissem heterossexuais. “As pessoas achavam que estavam desmerecendo nosso trabalho [com essas piadas]. Criamos empatia e compreensão pela luta porque tínhamos muitos fãs da comunidade LGBTQIA+”, avaliou Pe Lu.
De que forma o Restart e todo o movimento emo brasileiro marcou a sua vida?