Marjorie Estiano fala sobre Abraço de Mãe, terror psicológico nacional: Nunca tinha feito uma personagem com essa carga de ação

Filmes de terror por si só já podem nos dar frio na espinha, mas um ambientado durante a histórica tempestade de 1996 no Rio de Janeiro, considerada uma das mais fortes da história da cidade, com certeza, causa um arrepio a mais.

Abraço de Mãe é o novo terror psicológico nacional que acompanha Ana, uma bombeira que enfrenta uma luta desesperada para evacuar um hospital em risco de desabamento. A personagem, é interpretada por Marjorie Estiano que falou com exclusividade ao Fofocas e Famosos, sobre toda sua preparação para o longa e os bastidores da gravação, que contou com filmagens subaquáticas e laboratório ao lado do Corpo de Bombeiros, além do mercado cinematográfico nacional. 

Questionada sobre o fato da produção se passar com o plano de fundo de uma coisa tão atual quanto as enchentes no Brasil, Marjorie conta que isso influenciou o filme de forma objetiva e subjetiva, já que mesmo que o espectador não tenha vivido a tragédia, é algo que o país vive sempre. 

É um horror ao qual o Brasil está submetido o tempo todo. A negligência do poder público faz com que a cidade e a população fiquem muito vulneráveis às enchentes. Acho que o roteiro flerta em várias passagens com a literalidade e a metáfora da circunstância.

Para ela, interpretar Ana a trouxe desafios em várias esferas, como na construção psicológica e técnica, mas que apesar do gênero do filme ser de terror, ele também se enquadra na ação, e que isso exigiu dela muito preparo físico. 

Ana é uma espécie de Lara Croft, é uma heroína que tem que atravessar diversos obstáculos até a linha de chegada. Me exigiu bastante física e tecnicamente. Acho que nunca tinha feito uma personagem com essa carga de ação, lutas físicas, escalar coisas, filmagem subaquática, quatro semanas, 12h de chuva por dia…Foi um pacote intenso. Demandou bastante de um bom condicionamento físico e de desenvolver novos elementos de conexão com a cena. Foi muito rico para mim.

Marjorie ainda revela que por conta das cenas subaquáticas, cogitou negar o papel, já que teve uma experiência ruim em uma filmagem anterior e isso lhe causava certo medo, no entanto, o fato de conseguir gravá-las foi algo relevante para ela.  

Os produtores, André Pereira e a Mariana Miniz, foram muito acolhedores e me deram todo o conforto para lidar com isso. O Lucas Puppo, cinegrafista especialista em filmagens subaquáticas fez um treinamento com muita paciência e respeito ao meu medo, fui fazendo ali também a minha passagem na superação, de soltar uma memória do passado e construir uma nova. Não me tornei uma apaixonada por cenas subaquáticas, mas se tiver outra personagem que exija isso, vou com certeza partir de um lugar muito mais confortável.

E não foi somente os produtores que a ajudaram nessa preparação para a personagem. O Corpo de Bombeiros da cidade do Rio de Janeiro foi fundamental para que a Ana nascesse. Marjorie relata que acompanhou o processo de treinamento de novos bombeiros:  

A tenente-coronel Ana Luz foi quem nos orientou e nos apresentou um panorama da história dos bombeiros. Ela tentou, dentro do possível, nos aproximar desse organismo complexo. A relação com a equipe foi o que mais me saltou aos olhos, sentia que quando estavam juntos, o grupo virava um único corpo, vigoroso, ágil, sólido. 

Ela acredita que essa vivência ao lado dos profissionais, foi muito significativo para a narrativa: 

A história ser guiada através dessa figura do bombeiro significa muito na narrativa. É o salvador, a resistência, a força e me instigava muito no arco da personagem uma transformação através da ressignificação, uma mudança não dos elementos, mas dos significados. Acho que é o que acontece com a Ana, ela vai compreendendo e dando novo sentido para própria história.

A atriz que venceu o Emmy de Melhor Atuação em 2019, também comentou sobre a importância de produções como essas para o mercado nacional, afirmando que acredita muito no movimento de construção da autoestima do brasileiro por meio da identidade, arte e educação:  

O brasileiro vai usufruir muito mais de tudo que o Brasil produz de maneira geral, no cinema, inclusive. Mas é construção. O brasileiro é capaz de fazer tudo, e faz.  Muito embora, não tenha tanto incentivo, ele dá o jeito dele, mas o processo de apropriação, de credibilidade e reconhecimento nacional é uma construção. Ainda percebo a importância da validação de um olhar internacional para que o brasileiro se autorize a valorizar o que quer que seja nacional. Mas vejo o brasileiro muito mais aberto do que já foi e me comprometo a somar um pouquinho nesse movimento, pessoal e coletivamente.

Marjorie Estiano finaliza contando o que espera que o público sinta ao assistir Abraço de Mãe: 

Entrego nas mãos dele [público] e o interessante é que seja assim mesmo. Que cada um sinta como quiser e puder. É o tipo de filme que não oferece a elaboração, ele te dá símbolos, fragmentos, mas quem tem que significar é o espectador. É uma experiência mais ativa. Tem quem não entenda nada e não goste, quem não entenda nada e ame, quem veja muitas coisas, quem veja além do que eu vi, quem veja diferente. E eu adoro isso.

Abraço de Mãe estreou no último dia 23 de outubro no streaming Netflix. 

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