Neguinho da Beija-Flor fala de documentário sobre sua trajetória

A produção do Globoplay estreia nesta quinta-feira (20), Dia da Consciência Negra

Uma das vozes mais emblemáticas do samba, com composições autorais que marcaram gerações e mais de 50 anos dedicados ao Carnaval, Neguinho da Beija-Flor ganha documentário Original Globoplay, em parceria com AfroReggae Audiovisual e Formata, neste Dia da Consciência Negra, 20 de novembro.‘Neguinho da Beija-Flor – Soberano da Avenida’ apresenta a trajetória do artista ao revelar momentos de superação, conquistas, amores e parcerias marcantes. Com imagens raras de arquivo pessoal e depoimentos emocionados, familiares, amigos, artistas e jornalistas relembram histórias de Neguinho e homenageiam o legado que ele construiu para a cultura nacional, tendo se tornado uma referência também a outros artistas.Ao longo de quatro episódios, sendo o primeiro aberto também para não assinantes, Xande de Pilares, Thiaguinho, Dudu Nobre, Péricles, Zeca Pagodinho, Roberto Carlos, Zico, Mariana Gross, Flávia Oliveira, Aydano André Motta, Anisio Abraão David, Gabriel David, Selminha Sorriso, Pinah, Milton Cunha, Coronel Guimarães e Jorge Perlingeiro são alguns dos entrevistados que dão depoimento sobre Neguinho, que é o intérprete com maior número de títulos da história do Carnaval.Ana Maria Braga envia recado para Neguinho da Beija-Flor após sambista anunciar aposentadoria‘De Neguinho da Vala a Neguinho da Beija-flor’ é o primeiro episódio e leva o público a conhecer a infância do artista, desde sua primeira moradia, em Nova Iguaçu, até os campeonatos que conquistou, passando pelas tentativas de ingressar em outras escolas e a chegada ao Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis. No episódio seguinte, ‘Sucesso e Amores’, a obra apresenta a relação com os filhos, os casamentos, os shows memoráveis e a paixão pelo futebol, que o inspirou a escrever “O Campeão (Meu time)”, hino em homenagem ao estádio do Maracanã que se popularizou em meio às torcidas.Em ‘O Desafio da Vida’, o público poderá relembrar sua luta e recuperação contra o câncer, em 2009. ‘Apoteose Eterna’ encerra o documentário ao acompanhar o último Carnaval de Neguinho da Beija-Flor como intérprete à frente da escola, os bastidores dos ensaios na quadra, o reality show que escolheu a próxima voz da agremiação e as expectativas de Neguinho para o futuro.“Essa série também retrata a saga do herói: alguém que sai de casa, vai morar em um chiqueiro de porco e tem uma ascensão. As histórias são muito fortes e com grandes altos e baixos”, adianta José Junior, criador e produtor do conteúdo, que tem direção de Jorge Espírito Santo. “Neguinho não tem dimensão do tamanho e da importância que representa, não só para o Carnaval, não só para a Beija-Flor, mas para a música brasileira”, o diretor afirma.O documentário é produzido e realizado por AfroReggae Audiovisual e Formata, com criação de José Junior, direção geral de Jorge Espírito Santo e direção de produção de Gabriela Weeks e Lucas H. Rossi.Neguinho da Beija-Flor anuncia saída do Carnaval após 50 anos: ‘Esse momento é difícil’Confira abaixo entrevista com Neguinho da Beija-FlorComo você reagiu ao saber sobre a produção de um documentário sobre sua vida?Neguinho da Beija-Flor: Olha, a princípio, disse: ‘Poxa, será que estou com essa bola toda de ter a minha história contada?’. O José Júnior me falou ‘Pô, Neguinho, você não sabe o quanto as pessoas gostam de você. Você, como eu, veio da comunidade e olha aonde você chegou. Você não imagina a força que você tem, o que alcançou no mundo da música e do samba’.Qual trecho da sua vida você tem mais expectativa de ver?Neguinho da Beija-Flor: Tem muita coisa que eu mesmo não me lembrava. Foram tantas emoções vividas que algumas eu já tinha me esquecido. A parte que mais emociona é o começo de tudo, aquele momento em que você ainda está tentando, e algumas pessoas acreditam que vai dar certo, outras não. Essa parte é é a mais difícil.O que você acha que mais vai surpreender o público sobre sua história?Neguinho da Beija-Flor: Quando as pessoas veem você na televisão ou nos palcos, acham que você já nasceu assim. O emocionante da história, não só minha, mas de qualquer outra pessoa que tenha uma certa notoriedade, é o quanto você batalhou para chegar aonde está. Faz 50 anos que as pessoas me olham, mas não sabem o que eu tive que passar para chegar àquele momento de ter gente me pedindo para continuar. Acho que vai ser difícil as pessoas acreditarem que, de um chiqueiro de porco, onde morei, nasceu uma música que proporcionou o primeiro campeonato de uma escola de samba considerada coadjuvante na história do Carnaval na época.De que forma você acha que esse documentário vai impactar as pessoas?Neguinho da Beija-Flor: Espero que a minha história sirva de inspiração para muitos que um dia sonham em ter uma música gravada, fazer um disco gravado, especialmente vindo de onde vim.Você ficou por 50 anos como intérprete da Beija-Flor e mesmo fora do Carnaval também tem uma trajetória grande. São mais de 30 álbuns gravados. Já percebeu a dimensão do legado que você construiu para a música brasileira?Neguinho da Beija-Flor: Minha família sempre foi ligada à música. Meu pai era músico, embora não tenha alcançado grande sucesso, e isso gerou muitos conflitos entre meus pais. Minha mãe queria que eu seguisse uma carreira estável na aeronáutica e vivia dizendo: ‘Não quero meu filho músico. Um dia tem baile, outro não. Um dia tem show, outro não. Viver de música é muito difícil’. Influenciado por ela, meu pai chegou a concordar: ‘A mãe tá certa, sai dessa música’. Mas eu insistia. Cantava no Bola Preta, até que entrei para a Beija-Flor e compus o samba-enredo. Quando ganhei o samba e a escola venceu o Carnaval, meu nome começou a aparecer na mídia. Foi aí que meu pai me disse algo que nunca esqueci: ‘Eu não queria que você seguisse na música, mas agora não tem mais jeito. Só não esqueça de uma coisa: você é Luiz Antônio Feliciano Marcondes’. Esse conselho ficou comigo. Ele dizia: ‘Não se deixe levar pelo sucesso. Mesmo no auge, lembre-se de quem você é. Seja sempre o Luiz Antônio’. Sempre fui o mesmo Luiz Antônio, com os pés no chão. A única diferença é que hoje eu almoço e faço três refeições por dia.

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