Na COP30, Valenthina Rodarte, de ‘Carinha de Anjo’, quer ajudar o Brasil a salvar o planeta
Atriz escolhe cursar Relações Internacionais e pretende conciliar o ativismo ambiental com a carreira artística
Muitas vozes da intelectualidade criticam a atual geração de jovens por considerá-la “perdida” devido ao flagrante desinteresse pela coletividade. Mas há valiosas exceções. Uma delas é Valenthina Rodarte.Ela se tornou famosa ao atuar na novela ‘Carinha de Anjo’, do SBT. Faz também campanhas publicitárias e dublagem.Na COP30, em Belém, a atriz participou de diferentes eventos de discussão sobre a defesa do meio ambiente para garantir o futuro do planeta.Em conversa com a coluna, Valenthina, de 17 anos, explicou a origem de sua consciência social e os planos para representar o Brasil no exterior.Como aconteceu a escolha para ir à COP30?Participei da seleção proporcionada pelo Projeto Empatia, da Edify Education (empresa de soluções para o ensino bilíngue), juntamente com a minha escola GDV, de São Paulo. Ao longo do processo, debatemos com outros jovens a respeito da importância do combate às mudanças climáticas e do nosso dever como juventude de perpetuar a mensagem de cuidado com nosso lar. Tive a honra de ser selecionada entre oito mil inscritos para representar a região sudeste na COP-30, que é o coração pulsante da economia brasileira. Mas, a mesma região que impulsiona o progresso da nação, é também um de seus pulmões mais poluídos. Então espero dar voz a problemas, causas e projetos para construirmos um futuro melhor, não só para o Sudeste, mas para o Brasil.Sempre se interessou pelo tema do meio ambiente?Eu sempre vi o planeta como um lar e merecedor de respeito, cuidado e preservação. Desde pequena sou engajada em causas sociais e a justiça climática ocupa um importante espaço na minha atuação e nos estudos. Aos 10 anos, desenvolvi um projeto de sustentabilidade que mobilizou toda a minha escola: pesquisava sobre o ciclo dos resíduos, promovia ações de reciclagem e formei um grupo que tinha a sustentabilidade como pilar. Desde então, o compromisso com causas sociais e ambientais só se fortaleceu. Meus pais me mostraram o poder transformador da palavra e da comunicação, e essas são as ferramentas que hoje coloco a serviço de um propósito, que é unir educação, meio ambiente e engajamento social para inspirar mudanças concretas.A geração TikTok tem noção da gravidade dos danos ao planeta?Acredito que a geração atual tem sentido cada vez mais os impactos negativos da Era do Vazio, de (Gilles) Lipovetsky (filósofo e sociólogo francês). Essa teoria retrata como a sociedade pós-moderna tem se esvaziado da coletividade, de um propósito comum e dos valores coletivos. Infelizmente, vivemos em uma era do efêmero, do hedonismo e da indiferença, que só se preocupa com o individual, consumo e prazer. Portanto, imagino que grande parte da geração TikTok tem inviabilizado a gravidade dos danos ao planeta em detrimento da resposta imediata de algoritmos, que, por diversas vezes, mascara as consequências das mudanças climáticas. O combate aos danos ambientais é um processo árduo e complexo que exige empenho, união e dedicação, não se baseando simplesmente no imediatismo esperado pela sociedade pós-moderna. Eu entrei no meio artístico quando eu era muito jovem, e tendo esse papel de figura pública viso sempre inspirar pessoas e jovens a trabalharem o senso crítico, empatia e reflexão responsável acerca de temas de suma importância. Logo, me mostro ativa nessa missão de unir propósitos, dar voz a jovens engajados a fim de darmos início a um período de paz ao planeta Terra.No início do ano, você participou de evento sobre sustentabilidade na Europa. Onde e como foi?Fui selecionada para representar o Brasil no Encontro Internacional de Jovens Cientistas das Escolas Associadas à UNESCO, em Portugal. Lá, debatemos a respeito do tema ‘O Planeta Terra pergunta: Onde queres morar amanhã?’. Ao longo do evento, apresentamos nossas ideias, pontos de vista e compreendemos a importância de agir hoje. Mostrei a rica biodiversidade e herança brasileiras, mas também enfatizando suas mazelas e pontos a aperfeiçoar. Enfatizei que a humanidade está perdendo o seu lar por conta de suas próprias ações. Pesquisas estão sendo feitas para verificar a viabilidade de outros planetas receberem os humanos, como uma forma de substituir o planeta Terra. Entretanto, demonstrei que podemos encarar a atual situação global como uma causa perdida ou lutar a cada segundo por um mundo melhor, assim como a Terra luta pela nossa proteção. No evento, eu desejei passar a mensagem de que através da união, uma solução poderá ser encontrada para garantir o bem-estar e vitalidade do nosso planeta para as próximas gerações. Foi gratificante participar de um evento como esses, pois pude compartilhar ideias, aprender com os demais participantes, conhecer pessoas que me inspiram e notar o quanto a voz da juventude deve conquistar um lugar especial no mundo por poder fazer a diferença. Logo, se pudesse responder novamente à pergunta “onde queres morar amanhã?”, poderia afirmar que quero viver no meu lar, o planeta Terra, e estou disposta a achar soluções viáveis para restaurá-lo.Você acaba de ser aprovada no vestibular. Qual curso?Estou finalizando o terceiro ano do Ensino Médio e é com grande honra que posso afirmar que irei cursar Relações Internacionais na graduação a partir do ano que vem. No meio desse ano fui aprovada na Universidade ESPM e, mais recentemente, conquistei a vaga na PUC-SP na primeira chamada. Relações Internacionais é o segundo curso mais concorrido da universidade, com apenas 50 vagas, e estou extremamente animada para embarcar nessa nova missão e vivenciar o mundo universitário. Acredito que essa será uma experiência muito frutífera.Pretende dar prioridade à carreira de atriz ou faz outros planos?Meu sonho é me tornar diplomata, levar esperança pelo mundo, ajudar a construir a paz mundial, usar minha voz como um farol, defendendo causas que importam. Quero dar voz a dores, pessoas, grupos e cicatrizes muitas vezes silenciadas. Meu sonho é entrar em conferências da ONU e representar o Brasil internacionalmente, não para trazer problemas, mas soluções. Tenho seguido esse caminho e me aperfeiçoando cada vez mais nesse mundo diplomático. Entretanto, paralelo a esse plano, compreendo a arte como algo intrínseco da minha individualidade. Cresci no meio artístico, amadureci e conheci o mundo através dela. Acredito que a minha carreira de atriz seja essencial para me dar novas perspectivas de mundo, vivenciar diferentes realidades, trabalhar meu desenvolvimento e oratória. Portanto, a levarei como bagagem enriquecedora da minha jornada. Ao longo da minha vida, foi necessário conciliar diferentes projetos, objetivos, deveres e atividades, então, estou preparada para embarcar no universo diplomático me mantendo enraizada no poder da arte.
