Alessandra Scatena: Medo da morte, últimos momentos do marido e força para se reerguer
Em entrevista ao OFuxico, apresentadora conta como foram os últimos momentos de Rogério Gherbali
Ela nasceu em uma família simples, assim como simples ela segue, com sua fé, princípios e uma força enorme para seguir com seus dois lindos filhos. Alessandra Scatena conversou com OFuxico, relembrando o início da carreira na TV, o olho carinhoso do padrinho de trabalhos televisivos e casamento, Homero Salles.
Linda e sempre com um sorriso encantador, Scatena passou por momentos tensos na época em que a pandemia da Covid-19 estava bombando, onde tanto ela como os filhos, Enrico e Stéfano, além do marido, Rogério, ficaram internados por conta da doença, que levou embora o grande amor da sua vida, fazendo com que sua caminhada tivesse um giro de 180 graus, sem a chance de escolher se queria viver aqueles momentos.
Durante o bate papo, pausa para muitas lágrimas de emoção, mas com um foco absurdo em nos revelar sua caminhada. Com você, Alessandra Scatena:
Família e início nas passarelas
“Bom eu vim de uma família humilde. Meu pai, já falecido, era caminhoneiro e minha mãe sempre foi tecelã em uma fábrica de cobertores. Nasci em São Bernardo e aos 11 anos ganhei um curso de modelo e manequim do Márcio Mendes, do “Trio Los Angeles” e automaticamente eu entrei para a agência dele, onde eu fiz alguns desfiles, comerciais e onde apareceu a oportunidade de fazer o teste para o “Corrida Maluca” (SBT) onde o iam precisar de três assistentes de palco, sendo uma ruiva, uma morena e uma loira”, contou Satena ao OFuxico.
“Chegando lá, tinha muitas pessoas para fazer esse teste. O programa pedia isso né, um grande elenco. Homero Salles já tinha escolhido as três assistentes, porém, eu fiquei junto com meu pai lá, para ver se sobrava alguma coisa. Bom, resumo da ópera: Homero chamou meu pai para fazer parte da “Família Maluca”, um quadro fixo da atração e eu ia acompanha-lo. Depois de um tempo, o Homero me chamou para figurante e logo depois me chamou para fazer o teste para ser a quarta assistente de palco do programa, pois uma das meninas havia saído. Com isso, eu entrei no segundo tempo do programa que tinha duas partes, onde depois da primeira parte, desmontavam o cenário para então ter a segunda parte. Foi aí que comecei a trabalhar ao lado do Gugu (Liberato).”
Videoclipe
“Na época ainda do Gugu, tive a alegria do convite do Charlie Brown Jr. O Chorão, que era meu fã, me chamou para fazer o primeiro videoclipe dele, da música “Proibida Pra Mim”. Depois, fiz “Casa dos Artistas”; trabalhei um pouco mais de dois anos ao lado do Renato Aragão na “Turma do Didi” fazendo a personagem Linda, uma americana que aprendia a falar português com ele. Era muito engraçado, além de outras personagens.”
Gravidez
Na época, Alessandra Scatena recebeu uma grande notícia da cegonha: “Foi quando eu fiquei grávida do Enrico, mas continuei trabalhando. Tive também a oportunidade de apresentar alguns programas regionais aqui no grande ABC, depois fui para Rede Brasil de Televisão, onde eu fiquei também um tempo lá e também apresentando um programa no sul de Minas. Depois da ‘Casa dos Artistas’, eu trabalhei muito como mestre de cerimônias; meu ponto forte era esse fora da TV, apresentando eventos corporativos, entregas de prêmios. Daí, engravidei do Stéfano.”
Dando um tempo para cuidar da família
“Nessa época, grávida do Stéfano, eu decidi parar com tudo. Conversei com o Rô e aí ele falou ‘é isso que você quer? A gente aperta o cinto e vai’. Ele sempre do meu lado, claro, além de que foi o grande amor da minha vida, um companheirão incrível,. Quando decidi parar com tudo, não quis mais saber do lado artístico, a televisão. Me dediquei 24 horas como mãe, dona de casa, esposa e eu me realizei muito com isso.”
De casa direto para o YouTube
Tempos depois, Alessandra Scatena foi convencida a entrar no mundo digital. Estranhando no começo, não demorou para ela pegar gosto da nova empreitada. “Em 2019 eu conheci uma menina, a Milena, que ela falou poxa Lê porque me falou ‘por que você não faz um canal no YouTube?’. Eu falei ‘nossa, eu sou tão TV raiz, não sei mexer com essas coisas de internet. enfim, ela se propôs a estar comigo e nós abrimos o canal Alessandra Scatena. Começamos a brincar de fazer vários vídeos, entrevistas; começamos e eu vi que era legal e então começamos a levar a sério esse canal, tudo bem profissional.”
Programa na Flórida e Casa dos Artistas
“Na época m que eu trabalhava com o Gugu, eu tive a oportunidade de apresentar um programa onde nós gravávamos numa produtora aqui em São Paulo, mas ele era vinculado na Flórida, direcionado para os brasileiros. Era um programa de videoclipe de músicas brasileiras, bem eclético, tocava de tudo e fez tanto sucesso lá, que o programa passou a ser legendado em inglês. Fez muito sucesso entre os latinos e os americanos e até o programa ganhou um prêmio lá na época. Foi muito legal quando eu saí em abril de 2001. E foi em junho do mesmo ano que o Silvio (Santos) me chamou para uma reunião, onde ele me convidou para participar da ‘Casa dos Artistas’, sem me dar muitas explicações a respeito do programa, que era segredo. Mas, claro, confiei plenamente nele, porque na época já era casada, então ele perguntou se o Rogério permitiria, já que ficaríamos um tempo sem ver a família. Eu pensei até que ele nos mandaria para uma ilha (risos); não tinha a mínima ideia do que era o programa, afinal de contas,. ninguém conhecia reality show aqui no Brasil.”
Eliminada em reality show
“Fui a primeira eliminada, por proteção do público já que eu tinha percebido o complô que o Alexandre Frota tinha feito contra minha pessoa lá dentro. Então eu pedi para o público quem gostasse de mim, que votasse em mim. Com isso, Silvio ficou chateado, porque eu era aposta dele de ganhar o reality show. Ele, em um segundo momento, pensou em me colocar de volta na casa e as pessoas que ali estavam se revelaram. Enfim, foi muito legal foi uma foi também uma experiência única.”
Gratidão sempre
“Eu agradeço sempre e de coração; não me canso de agradecer. Sabe, nunca pensei em trabalhar na televisão, ao lado do Gugu. Mas quando eu comecei a trabalhar ao lado dele, me encantei pela televisão. A princípio sempre pensei em ser modelo, manequim, porque na época eu era magrinha. Porém, vendo como o Gugu conduzia os bastidores, eu me encantei e foi aí então que comecei no ‘Corrida Maluca’, passando logo depois para o ‘Viva a Noite’, Passa ou Repassa’, Sabadão Sertanejo, finalizando como ‘Domingo Legal. Foram 12 anos de 89 a 2001, foi quando eu achei que deveria fechar o ciclo. Pensei: ‘poxa até quando o Gugu vai me querer ao lado dele?’ Eu queria também curtir os meus fins de semana, já que eu já era casada. Em 97 nós tínhamos os programas aos domingos, ao vivo, enfim, pensei por muito tempo. Não foi uma decisão assim de um dia para o outro, demorei para tomar essa decisão que foi muito difícil. Muito difícil mesmo.”
Covid-19, depressão e morte de Rogério Gherbali
“Sabe, chegou 2020, veio com ele a pandemia e o Rogério e os meninos sempre nos precavendo, sempre nos protegendo ao máximo possível com álcool, água sanitária, limpando produtos que trazíamos de fora para dentro de casa, tapete que limpava os pés, máscaras tudo que nós poderíamos fazer nós fizemos infelizmente Rogério acabou pegando a Covid e naquele momento nós estamos na praia, no Guarujá. Os meninos com aula online, Rogério fazendo o imposto de renda que era a época; às vezes vindo para São Paulo pegar documentos, enfim, acho que foi numa dessas que ele acabou contraindo a Covid, que num primeiro momento não parecia a doença, já que estava num comecinho da pandemia. Parecia uma intoxicação alimentar. Em seguida, um dia depois que ele começou a passar mal eu comecei a passar mal também e no meu caso, parecia sintomas de dengue, uma dor muito grande nos olhos, dor de cabeça, dor no corpo, enfim, depois de alguns dias acabamos vindo para São Paulo onde passamos no hospital Beneficência Portuguesa de São Caetano e foi constatada a Covid. Ele já ficou internado na UTI; estava bem ainda, na medida do possível, conversando, respirando apesar do comprometimento no pulmão.”
Esperança e fé
Alessandra Scatena contou ao OFuxico como foram os últimos momentos do marido. “Rogério já ficou internado e, antes dele ser entubado, recebi alguns vídeos dele ele ainda falando na esperança de que ele sairia, que estaríamos juntos novamente . No físico eu estava comprometida também de 25 a 50% do pulmão só que os meninos também estavam infectados, assintomáticos mais infectados. E então eu comecei a fazer o tratamento em casa, já que eu não teria como deixá-los sozinhos. Foi quando o hospital pediu para que eu fosse dia sim, dia não para ver minha situação. E na segunda ida ao hospital, constataram que meu quadro havia gravado um pouco mais e decidiram então colocar o Stefano junto comigo no meu quarto e o Enrico em outro quarto na mesma ala.”
A internação deles, Alessandra e os filhos, durou cinco dias: “Ficamos 5 dias internados, voltamos para casa, mas Rogério continuou lá. Se eu já tava lá desesperada dentro do hospital, sempre tendo o acompanhamento dos médicos, de toda equipe, todo carinho, respaldo do hospital e tendo as informações do Rogério, quando eu cheguei em casa piorou, porque eu já não tava mais perto dele. A piora total dele foi quando ele foi entubado.Ali, ele teve bactéria, teve água no pulmão, teve que fazer diálise, não era nem hemodiálise, era diálise. Enfim, ele ficou 31 dias e na semana que ele faleceu, ele estava melhorando cada vez mais. Nós estamos esperando a equipe da UTI, que nunca me deu assim, sabe, esperança. Sempre com os pés no chão, sempre trazendo as informações corretas com um certo carinho, mas sempre mostrando a gravidade do caso. No dia 30 de julho de 2020 Rogério nos deixou. Ele teve três AVCs.”
Alessandra emocionou, ao falar da dor de uma despedida que não aconteceu.
“Entrei numa depressão profunda. Já estava em depressão, passei por psiquiatra, comecei a tomar remédios e mais ou menos um mês depois da partida do Rogério, que é uma partida muito dolorosa, porque além da morte, lógico, o pior de tudo é ter perdido a gente não pôde ter finalizado por aqui. Culturalmente n? A gente tem essa cultura de finalizar, ver que houve um ponto final aqui na Terra, com velório, enfim. Ele veio em um caixão lacrado. Rogério estava ensacado, não pude nem escolher a roupa dele. Essas coisas, pequenos detalhes, mas que enfim nós vimos o Rogério entrando no hospital sorrindo e não vimos mais o Rogério saindo.”
Dor e quase cirurgia
“Depois que ele se foi, no final de agosto mais ou menos, eu comecei a ter uma dor muito grande na perna direita. Foi quando constatamos 3 hérnias de disco, que me deixou acamada mais de um mês a base de morfina e de outros remédios, além da depressão profunda. Eu não conseguia cuidar de mim, tão pouco cuidar dos meus filhos. Minha situação era de cirurgia, de colocar duas próteses de disco na coluna, porém, eu sem forças físicas – porque eu emagreci 16 quilos em um mês -, muito menos psicológicas e emocionais. Eu tinha medo dos meninos me perderem também; de morrer também sem poder ter o apoio mesmo da minha família por conta da Covid, da pandemia que ainda estava em alta, estava no pico. Mas mesmo assim, eu tive ajuda de anjos aqui na Terra, amigos que me levavam comida lá em casa; amigos que levavam bolo, pão, minha mãe sempre junto comigo e pessoas assim mais próximas sempre me ajudando; pessoas que eu não tinha contato, me ajudando também sabe? Colocando em risco a vida deles para me ajudar naquele momento.”
Scatena contou que não precisou fazer a cirurgia na coluna e que, no momento certo, Deus colocou em sua vida, uma fisioterapeuta que a ajudou a se recuperar.
“Graças a Deus eu me recusei a fazer a cirurgia e graças a Deus, Ele colocou uma fisioterapeuta na minha vida que a Marcia Helena Oliveira, do Espaço Maho, aqui de santo André. Ela cuidou de mim e foi ela que me tirou da cirurgia. Até hoje eu passo com ela, que cuida dos meninos também, porque são atletas, Enrico joga basquete, Stéfano joga futebol e sempre tem alguma coisinha para ser resolvida. Deus foi tão generoso comigo, tão bondoso, porque eu sei que Ele esteve comigo a todo momento, por mais que eu não percebesse, Ele colocou pessoas que são meus anjos aqui na Terra; pessoas que vieram cuidar de mim de alguma forma sabe? Até em orações, na vida financeira e ajudar trazendo comida; minha família me ajudando nas questões burocráticas após a morte do Rogério, enfim, minha família foi fundamental; meus amigos foram fundamentais e pessoas que eu não conheço também. Eu só tenho que agradecer a Deus e agradecer essas pessoas.”
Volta ao trabalho!
Depois da morte de Rogério, mais uma vez, o amigo e padrinho Homero Salles voltou a trazer Scatena ao trabalho. “O Homero Sales me convidou para apresentar um programa na Rede TV!, onde eu fiquei até 2022 e agora eu tô voltei à ativa, Graças a Deus. Mesmo porque, eu preciso trabalhar, agora eu sou o ganha pão da minha casa. E estou muito feliz porque eu estou na Band aos domingos, ao vivo, pelas manhãs, apresentando ao lado do Renato Ambrósio o ‘Viva Sorte’. Estou muito feliz mesmo com as oportunidades que Deus está colocando na minha vida. Também estou reestruturando a minha família e, quando eu falo reestruturando, é porque os meninos estão cada vez melhores.”
Saudade que não acaba
Claro que após a morte de Rogério, Scatena sente um vazio imenso dentro do peito. E a saudade é um sentimento constante dentro da apresentadora.
“Ainda sentimos muito muita falta do Rogério porque ele foi uma pessoa muito importante na nossa vida, um grande pai, um grande marido, um grande filho, um grande ser humano. Uma pessoa incrível, então é isso, vivemos um dia de cada vez, sabendo que o que me fortalece, o que me dá me dá uma paz é que um dia eu estarei junto com ele. Eu estarei! Como cristã, eu acredito que estaremos juntos na nova Jerusalém”, finalizou Alessandra Scatena, que me emocionou do início ao fim do bate-papo e, que certamente, quando for a hora permitida, reencontrará seu grande amor em um outro plano.