Análise: Prisão de Bolsonaro e Generais: Brasil dá recado para o mundo

Um golpe que não passou — e um país que enfim responde à altura

A prisão de Jair Bolsonaro e de generais diretamente envolvidos na tentativa de golpe de Estado marca um ponto de inflexão na história republicana brasileira. Pela primeira vez por atacar a própria democracia. Isso quebra um tabu que atravessou o século XX e parte do XXI: o de que militares ocupam um lugar intocável no imaginário institucional brasileiro.+ PSOL aciona PGR contra Nikolas por uso de celular em visita e ‘suspeita de ajuda em tentativa de fuga de Bolsonaro’Desde a transição pactuada da ditadura para a democracia, o país conviveu com uma espécie de “blindagem cultural” que aceitava, resignada, que militares não seriam responsabilizados por violações constitucionais. Esse pacto informal — reforçado pela Lei da Anistia e pela postura historicamente condescendente do sistema político — sempre funcionou como um lembrete implícito de que a farda tinha prerrogativas acima do cidadão comum.As prisões rompem esse eixo simbólico. Pela primeira vez, o Estado brasileiro age como um Estado moderno e republicano: ninguém está acima da lei. Isso redefine padrões de responsabilização, desmonta a ideia de tutela militar sobre a política e inaugura uma pedagogia institucional que deve reverberar por décadas. O recado é simples: o tempo da indulgência acabou.É inevitável comparar a reação brasileira a golpes recentes com a resposta de democracias tidas como “consolidadas”. Enquanto os Estados Unidos ainda tropeçam para punir de maneira inequívoca os responsáveis pelo 6 de janeiro, o Brasil mostrou capacidade de investigação, coesão institucional e rapidez processual surpreendentes — especialmente para um país cuja frágil democracia tem pouco mais de 35 anos em funcionamento pleno.Essa maturidade não veio do nada: é fruto da resistência social ao autoritarismo, do fortalecimento do Judiciário e de uma cultura política que, apesar de todas as contradições, amadureceu diante do trauma recente. O Brasil se apresenta, hoje, como um exemplo para outras democracias: é possível responsabilizar quem tenta destruir as instituições, mesmo que essas pessoas tenham poder, prestígio ou apoio popular.Mais do que punir indivíduos, as prisões sinalizam uma mudança de horizonte. Pela primeira vez desde a redemocratização, o país dá sinais de que não está disposto a repetir o ciclo histórico de “perdoar para pacificar”, que invariavelmente mergulha a sociedade novamente em instabilidade. O Brasil começa a romper o padrão de anistiar golpistas e tentar seguir adiante. O país parece, enfim, disposto a não repetir seus próprios erros.+ STF mantém, por unanimidade, decisões de Moraes que determinaram cumprimento de pena de Bolsonaro e seis réusEsse movimento abre espaço para um futuro diferente: uma nação que aprende com seus traumas, que não aceita mais retrocessos e que finalmente compreende que democracia não é apenas votar — é garantir que ataques ao sistema tenham consequências reais. Há, no ar político brasileiro, um sentimento raro: esperança. Esperança de que o país, depois de flertar perigosamente com o abismo, esteja finalmente disposto a escolher a responsabilidade como caminho.**As críticas e análises aqui expostas correspondem a opinião de seus autores

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