Edvana Carvalho, grandona e sem medo, esbanja talento em ‘Vale Tudo’

Foi preciso apenas uma cena. Uma sequência em que Eunice, personagem de Edvana Carvalho, enfrentou Odete Roitman (Debora Bloch) sem medo, com postura ereta, olhos firmes e principalmente fala precisa. Ali, na noite de sexta-feira, 1º de agosto, – mesmo rodeada por nomes de peso e personagens consagrados.

Edvana Carvalho brilha como Eunice em 'Vale Tudo'

Foi preciso apenas uma cena. Uma sequência em que Eunice, personagem de Edvana Carvalho, enfrentou Odete Roitman (Debora Bloch) sem medo, com postura ereta, olhos firmes e principalmente fala precisa. Ali, na noite de sexta-feira, 1º de agosto, – mesmo rodeada por nomes de peso e personagens consagrados.Até aquele momento, muitos viam Eunice como “mais uma no elenco”. Isso mudou. E não há como não reconhecer o feito.Edvana não precisa gritar. Em um folhetim onde há espaço para choros, gritos e exageros, ela trilha o caminho oposto: atua com calma, olhar afiado e gestos calculados. E é justamente aí que mora sua força. Enquanto outros brilham com efeitos de cena e falas eloquentes, ela captura o espectador na respiração contida, na pausa que diz mais do que qualquer texto decorado.Ao contrário do que muitos poderiam supor, a atriz não se contenta com a sombra de papéis menores. Ela se impõe. E, ao fazer isso, eleva o nível de qualquer personagem que assume. Assim como aconteceu em “Renascer”, onde deu vida à carismática Inácia, Edvana transforma textos aparentemente comuns em momentos memoráveis. Mesmo quando a trama não a aponta como protagonista, sua presença acende a tela.A carreira de Edvana Carvalho é marcada por solidez e versatilidade. Nascida em Salvador em 17 de maio de 1968, a artista é mais do que atriz: também é poetisa, escritora, apresentadora e educadora. Sua ligação com a arte vem de longe, com passagens por importantes grupos teatrais como o Bando de Teatro Olodum, onde participou de “Ó Paí, Ó!”, e o grupo do SESC/SENAC.Na televisão, coleciona participações expressivas. Em “Renascer”, brilhou. Antes disso, esteve em “Pega-Pega” e em duas temporadas de “Malhação — Conectados”, como Aparecida, e “Sonhos”, como Bete. Esteve também nas séries “Clandestinos” e “Irmãos Freitas”, e até em um programa culinário, “Minha Receita” com Erick Jacquin, exibido na Band.Sua trajetória ajuda a entender o porquê de sua performance ser tão sólida em “Vale Tudo”. Edvana conhece os palcos, os sets e, sobretudo, conhece a alma das personagens que assume. Em vez de representar, ela vive. E por isso, mesmo interpretando uma mãe costureira em um núcleo familiar, consegue ultrapassar o roteiro e trazer densidade emocional em cada gesto.Na versão original de “Vale Tudo”, Eunice era interpretada por Íris Bruzzi, uma figura respeitada e carismática. Porém, a nova abordagem da personagem agora tem outra camada: a da vivência negra, da mulher que desafia a lógica social não só com o texto da novela, mas também com sua própria presença em cena.Casada com Bartolomeu (Luís Melo), e mãe de Fernanda (Ramille), Eunice é descrita como uma costureira querida no mundo da moda e do audiovisual. Mas sua função vai além do figurino. Mãe solo, criou a filha com dedicação e cumplicidade.Até que o amor bateu à porta em forma de acolhimento. Bartolomeu assumiu não apenas a mulher, mas também a filha, como se fossem suas. A narrativa é delicada e afetuosa, e Edvana sabe conduzir essa história sem cair no melodrama.Há uma beleza contida na forma como ela narra a maternidade, o amor e as dificuldades da vida real. Sua Eunice não romantiza a luta diária, mas também não dramatiza cada passo. A personagem é humana, acessível e, ao mesmo tempo, inspiradora.Em tempos em que se exige barulho para ser notado, Edvana Carvalho reafirma que a arte da atuação ainda pode ser feita com silêncio e verdade. Basta saber onde colocar a força — e ela sabe. Com uma longa carreira nas costas e uma atuação que transborda talento, Edvana mostra que é possível conquistar espaço sem forçar a entrada. E quando chega, ocupa o lugar com tamanha naturalidade que o público se pergunta por que demorou tanto. Grandona e sem medo!

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