Ex-vocalista do Iron Maiden, Paul Di’Anno morre aos 66 anos

Ex-vocalista do Iron Maiden, Paul Di’Anno morre aos 66 anos

Paul Di’Anno, vocalista conhecido por ter gravado os primeiros álbuns do Iron Maiden, morreu aos 66 anos no último sábado (19). A informação foi confirmada através do selo Conquest Music.

Di’Anno gravou os álbuns “Iron Maiden” (1980) e “Killers” (1981), saindo para a entrada de Bruce Dickinson. Seu primeiro projeto após deixar a banda foi o Di’Anno, com sonoridade mais comercial. O nome foi reaproveitado na virada do século, com uma banda formada apenas por instrumentistas brasileiros.

A seguir fundou o Battlezone, com sonoridade mais pesada. O grupo existiu entre 1985 e 1989, retornando brevemente em 1998. Na sequência veio o Killers, que teve no álbum “Murder One” (1991) o trabalho mais elogiado do vocalista fora do Maiden.

Também gravou e excursionou com Gogmagog, Praying Mantis, Scelerata e Architects Of Chaoz, entre outros. Nos últimos anos, participou do Warhorse, com músicos croatas, aproveitando sua estadia no país para tratamento visando readquirir independência de locomoção.

Nos últimos anos, os fãs acompanharam os problemas de saúde de Paul Di’Anno. Uma mobilização mundial foi feita para que o cantor pudesse ter acesso a um tratamento para lidar com problemas em seus membros inferiores.

Nascido em 17 de maio de 1958 em Chingford, Londres, na Inglaterra, Paul Andrews tem cidadania inglesa e brasileira, devido a seu pai ter sido brasileiro. Chegou a morar no país, mais especificamente em São Paulo, e teve duas filhas por aqui.

Na adolescência, cantou em diversas bandas e trabalhou como açougueiro e cozinheiro. Entrou para o Iron Maiden em 1978. Antes dele, dois outros cantores ocuparam o posto: Paul Mario Day – que posteriormente cantaria no Sweet – e Dennis Wilcock – responsável por incorporar alguns dos elementos dramáticos e de efeitos especiais que fazem parte dos shows do grupo até hoje.

Só então, coube a Paul Andrews (seu nome de batismo) empunhar o microfone e participar da ascensão da Donzela de Ferro rumo ao posto de uma das atrações mais bem-sucedidas do heavy metal britânico. Em entrevista ao Misplaced Straws, o próprio contou como tudo teve início.

Ele disse, mencionando o baixista e líder do grupo:

“Bem, Steve Harris estudou na mesma escola que eu. Ele é alguns anos mais velho e estava procurando um cantor. A banda teve outros dois antes, Paul Day e Dennis Wilcock. Eu conhecia Paul Day, todos nós meio que morávamos na mesma área. Um amigo em comum, Trevor Soll, disse que o Maiden estava procurando vocalista e perguntou se eu gostaria de tentar.”

Inicialmente, Paul Di’Anno confessou não ter se entusiasmado, especialmente por conta do background musical diferente. Ele disse:

“Eu estava mais interessado em música punk, para ser honesto com você. Mas fui para o teste mesmo assim. Inventei a letras para um cover de uma música chamada ‘Dealer’, do Deep Purple. Após a audição, Steve foi até minha casa tarde da noite e perguntou: ‘Paul, você quer a vaga?’ Respondi que sim.”

Ainda assim, Paul reconhece que não sentiu como se tivesse encontrado algo tão importante quanto pode parecer hoje. O cantor afirma:

“Eu não estava tão entusiasmado, para ser honesto com você. Só quando fui à casa de Steve algumas semanas depois e ele tocou para mim o material que estaria no primeiro álbum do Iron Maiden, que pensei: ‘Uau, isso é fantástico’.”

Após dois álbuns gravados, Paul Di’Anno foi demitido em 1981, dando lugar a Bruce Dickinson, que transformou a banda e acabou se mostrando o ingrediente que faltava para que o grupo realmente despontasse para o sucesso.

Em entrevistas nos últimos anos, Di’Anno falou de forma mais aberta sobre a demissão do Iron Maiden. Ao Eon Music, ele declarou, por exemplo, que saiu não só por conta do vício em drogas, como, também, pelos problemas com o baixista e líder Steve Harris.

“Gostei muito do segundo álbum (‘Killers’), mas não me impactou tanto quanto o primeiro. Não pude dar 100% de mim, o que não era justo com a banda, os fãs ou comigo. E, sim, eu estava tentando achar outras formas de fazer aquilo ser empolgante na estrada e, sim, tive problemas com cocaína.”

O cantor destacou que sua situação com drogas “não foi tão ruim como muitas pessoas dizem”.

“Mas no fim das contas, quando se tem uma máquina como o Iron Maiden, se uma parte da engrenagem dá errado, tudo acaba caindo por terra. E eu não estava preparado para o Maiden passar por aquilo, nem estava preparando para eu mesmo passar por aquilo. Citei que não estava feliz, conversamos e foi isso. Rompemos de forma amigável.”

Paul Di’Anno também revelou que chegou a ir ao primeiro show do Iron Maiden com Bruce Dickinson no vocal.

“Levei a minha mãe comigo. Tivemos que ir embora antes da hora, porque as pessoas ficavam gritando por mim. Então, fomos embora.”

Em entrevista à revista Metal Hammer, Di’Anno se recordou de sua demissão. O cantor disse que não culpa os demais integrantes do Iron Maiden pela dispensa, mas que gostaria de ter oferecido mais à banda.

“Não os culpo por se livrarem de mim. Obviamente, a banda era o bebê de Steve. Porém, gostaria de ter contribuído mais. Após algum tempo, isso me deixou triste. No fim, não pude mais oferecer 100% ao Maiden e isso não era justo para os fãs, para a banda ou para mim mesmo.”

Apesar disso, Paul Di’Anno destacou sua visão positiva a respeito de seu trabalho com o Iron Maiden.

“Os dois álbuns que fiz com a banda foram fundamentais para o estilo. Mais tarde, quando conheci Metallica, Pantera e Sepultura e eles falaram que esses discos os colocaram na música, fiquei incrivelmente orgulhoso.”

No livro “Run To The Hills”, biografia autorizada do Iron Maiden escrita por Mick Wall, Paul Di’Anno admitiu que o vício em drogas saiu do controle.

“Não era só uma cheiradinha em cocaína. Eu estava fazendo isso sem parar, 24 horas por dia, todos os dias. A banda tinha compromissos acumulados que duravam meses, até anos, e eu não conseguia enxergar o caminho até o fim. Eu sabia que não duraria até o fim da turnê.”

A saúde de Paul Di’Anno preocupava fãs e até pessoas que trabalham com ele nos últimos anos. O ex-vocalista do Iron Maiden esteve numa cadeira de rodas por quase uma década em função de problemas nos joelhos. Cirurgias foram realizadas, mas não tiveram o efeito desejado.

Após a situação de um de seus joelhos ter piorado nos últimos anos, a ponto de ter deixado sua perna extremamente inchada, Di’Anno fez em setembro de 2022 uma cirurgia após mobilização (inclusive financeira) de fãs e pessoas envolvidas com sua trajetória, incluindo músicos do Iron Maiden. Nos tempos seguintes, seguiu em um longo processo de recuperação marcada também pelos compromissos profissionais, a exemplo de uma extensa turnê pelo Brasil no início de 2023. Esperava-se que ele recuperaria a capacidade de caminhar, o que não ocorreu.

Em entrevista ao The Metal Voice (via Blabbermouth), o cantor contou que vivia bastante isolado quando não estava em turnê e que ficou muito doente nos últimos meses, já que seu sistema imunológico não está tão forte quanto deveria. Ele disse:

“Sim, eu passo muito tempo em isolamento, especialmente onde eu vivo, porque moro no interior e não recebo muitas visitas. E estive muito doente nos últimos dois meses, com infecção após infecção após infecção, porque peguei pneumonia ano passado no México. Eu estava lá fazendo fisioterapia depois de terminar uma turnê.”

Segundo o artista, o quadro de sepse que ele teve em 2015, na Argentina, tornou seu sistema imunológico mais fraco. Dessa forma, ele ficava doente com muita facilidade.

Sobre as turnês, Di’Anno explicou que eram um problema para sua saúde física, mas ajudavam seu psicológico. O vocalista afirmou:

“É ruim para minha saúde. Não é bom para mim, porque eu não faço a fisioterapia ou a drenagem linfática que preciso. Às vezes você consegue, mas não sempre. É muito difícil. E obviamente, transferência de A para B, de aviões para ônibus e tudo isso. Mas tocar ao vivo faz muito bem mentalmente.”

Seja no Reino Unido ou na Croácia, onde realizou a maior parte de seu tratamento, Paul Di’Anno passava a maior parte do tempo sozinho e isso preocupa fãs e pessoas próximas. Seu empresário, Stjepan Juras, responsável por leva-lo à Croácia e pelos shows mais recentes do cantor, falou sobre o assunto em uma publicação em seu Facebook, em março deste ano. Ele contou:

“Embora Paul precise de apenas alguns meses de trabalho para voltar a caminhar totalmente, não é tão fácil. Existem inúmeros obstáculos e forças mentais, TEPT (transtorno de estresse pós-traumático), depressão, etc além de um estilo de vida não tão saudável. Todas essas coisas são doenças e não há brincadeira sobre isso.”

A respeito das turnês, que ajudam por um lado, mas atrapalham em outro, Juras parecia enxergar mais o lado positivo. Para o empresário, a situação de Paul era melhor quando ele podia ser acompanhado por mais pessoas, incluindo profissionais de saúde. Stjepan disse:

“Na turnê, se as viagens de avião forem cansativas e tudo o mais, alguém pode ajudar o Paul todos os dias a ir para a cama, a ir ao banheiro e a tomar banho. Um enfermeiro pode visitá-lo sempre que necessário. E na próxima turnê pelo Brasil ele terá um cuidador pessoal, enfermeiros e fisioterapeutas 24 horas por dia, 7 dias por semana.”

Uma turnê brasileira do vocalista prevista para 2024 foi adiada duas vezes por motivos de saúde. A longa sequência de datas deveria ter acontecido no início do ano, mas foi postergada para o período entre maio e julho, também não ocorrendo.

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