Júlio Taubkin e Pedro Arantes, diretores de Saideira, compartilham detalhes sobre a produção do filme

Tem comédia nacional nova nos cinemas! E Júlio Taubkin e Pedro Arantes, diretores de Saideira, conversaram com exclusividade com o Fofocas e Famosos para contar detalhes sobre o longa que estreou no dia 8 de agosto nas telonas de todo o Brasil.

Aqui, você já viu sobre a estreia do longa-metragem e também sobre os papéis de Luciana Paes e Thati Lopes, que interpretam as protagonistas do filme. Agora, os dois compartilharam algumas curiosidades sobre a produção do filme. Pedro começou falando sobre a ideia inicial da produção, que surgiu quando eles eram mais novos: 

– Quando a gente foi fazer esse filme, a gente era bem mais novo e gostava muito de cachaça, então, [a ideia veio] da gente gostar mesmo, sabe? E ao mesmo tempo, também, de ter essa vontade de falar um pouco do Brasil, da gente aqui, enfim. E aí a bebida [daqui] é a cachaça mesmo, então acho que o desejo inicial parte daí.

Depois, ele continuou e explicou o motivo de homenagear a cachaça:

– A gente foi descobrindo todo esse universo da cachaça, que é um universo muito rico, e isso foi trazendo para a gente muita coisa. Tanto do ponto de vista da história dos lugares, da região, da história real; e de como a história, também, tem que ser recontada tantas vezes, porque a gente vai mudando, e o nosso olhar sobre a história vai mudando. Então, tem essa coisa de que a cachaça é uma coisa encantada, maravilhosa, mas também tem esse lado triste e ruim de toda a exploração daquela região e do ouro, da mineração e da escravidão. Poder olhar para isso era uma das coisas que movia a gente, e, por outro lado, como falar isso dentro da nossa própria ancestralidade quando a gente fala das relações pessoais, das relações familiares… Então, a gente achou que, no fim das contas, a cachaça meio que falava de tudo isso, sabe? É isso, né? A cachaça tem o lado doce e o lado amargo. Então, tinha um pouco a ver com o que a gente estava buscando. 

Júlio também compartilhou como foi o processo de pesquisa:

– A gente teve essa ideia de falar: Poxa, acho que cachaça é um lugar muito legal pra começar, para a gente tentar falar alguma coisa aqui. Vamos ver o que tem. Tinha uma tese de mestrado a respeito da Estrada Real, que a gente leu para começar a pensar no roteiro, para começar a entender as cidades. Depois teve um documentário sobre a Estrada Real, que é do Pedro Urano, A Estrada Real da Cachaça, que é um filme muito legal, que a gente viu e a gente ficou apaixonado pelas imagens.

Segundo ele, depois de pensar sobre a representação da bebida e ler e assistir algumas coisas, as ideias foram surgindo e eles foram até visitar os lugares mostrados durante o filme:  

– Aí já vem um pouco aquela coisa da faculdade de cinema, de falar Minas Gerais, o interior de Minas, aqueles filmes do Humberto Mauro, o começo do cinema brasileiro. Aquela paisagem do interior da Minas. E a gente falou: Beleza, vamos todo mundo lá, vamos fazer uma viagem, vamos conhecer esses lugares, vamos tirar um monte de fotos. E a gente tirou umas férias e passamos uns 15 dias por essa rota. Isso faz muito tempo, a gente era bem mais jovem, a gente tomava bem mais cachaça do que a gente toma hoje.

A viagem, de acordo com Taubkin, só serviu para aumentar essa vontade de produzir o longa e concretizar as ideias: 

– Foi muito legal para gente começar e ter uma concretude desse lugar específico, além das nossas impressões pessoais. Porque a gente, claro, já tinha ido para Minas Gerais, o Pedro tem família de Minas Gerais. E realmente começamos a pensar: E se a gente fosse fazer um filme sobre cachaça aqui? E aí a gente também começou a ter muito contato com as pessoas e fomos criando um pouco, trazendo essas particularidades, até estéticas. Então a gente percebeu que esse filme tinha que ser uma coisa familiar, porque tinha muito a ver com essas heranças, histórias de família.

Ele finalizou contando sobre a produção e a pesquisa, entregando como eles pensaram em dividir o filme e também sobre o processo escolhido: 

– A gente achou que fazia muito sentido ele ser episódico, ele ser um low-movie, porque ia ter essa estética dos causos, cada lugar você tem um caso, você tem uma história. Então a gente começou a tentar entender melhor esse universo desse cinema caipira, desse interior de São Paulo, Minas, que a gente queria explorar. E aí, obviamente, a pesquisa não acaba nunca, porque chega uma hora na pesquisa que você começa a construir personagens, você começa a pensar sobre as emoções, você começa a pensar na sua própria família, nos seus próprios antepassados, na sua própria relação com outras pessoas, e aí é isso. Você vai crescendo, vai amadurecendo, vai ressignificando, as ideias vão mudando, você vai ter que voltar lá e amadurecer uma ideia ou outra. 

Falando em antepassados, quando o filme acaba e os créditos sobem, os diretores homenageiam as avós com o longa-metragem, e Arantes fala sobre a decisão de dedicar a elas esse trabalho: 

– A gente tem que sempre agradecer as nossas avós, porque a gente está aqui por conta delas. Eu acho que tem uma tradição patriarcal mesmo, que está aqui na nossa sociedade, das famílias fazerem muita reverência aos patriarcas, essa família do senhor, que construiu essa família. E a mulher estava lá todo dia cuidando daquela família, nutrindo aquela família, realmente fazendo com que aquela família pudesse existir, até em termos materiais. E eu acho que para a gente mesmo, na nossa própria história, é importante reconhecer isso, olhar para as nossas próprias famílias e falar assim: Pô, mas minha avó estava lá e ela passou por um bocado – porque elas passaram mesmo, tem que casar muito novas, meninas às vezes, tem que dar conta. Então eu acho que no fim das contas é um pouco isso, não querendo desfazer dos nossos avôs, que também são importantes na nossa história, mas dar espaço para a gente poder reconhecer esse legado das nossas avós, na história de cada um. Então a gente achou importante, no fim das contas, dedicar o filme para elas.

Taubkin também apontou as dificuldades de criar esse filme, e não deixou de falar que embora desafiador, já que era um projeto muito antigo, foram portas abertas: 

– Só a gente falar que o filme é um projeto muito antigo já mostra que fazer um filme é um projeto desafiador. No Brasil, um filme brasileiro é sempre um filme alternativo, ele sempre vai ter um caminho longo para ser feito. Ele é um filme, você vai ter que achar o pensamento, você vai ter que buscar meios para realizar. Então isso em si é um desafio que perdura anos, toda uma vida. Mas acho que a produção do filme, especificamente, teve alguns desafios. A gente estava filmando em muitas cidades diferentes em pouco tempo. E a gente não tinha possibilidade de ter uma estrutura muito grande para construir o cenário exatamente do jeito que a gente queria, fazer o negócio exatamente do jeito que a gente queria, a cena, obedecer isso, isso e isso toda hora, disse ele, enquanto explicava que às vezes precisavam gravar as cenas no mesmo dia. 

Mas, para ele, o fato de não controlarem tanto as gravações foi um baita presente, já que permitiu que diversas oportunidades surgissem.

– Eu acho que o desafio de você não poder controlar tudo foi o nosso maior presente, porque daí a gente conseguiu fazer um filme que a gente não controlasse tudo, onde a gente pudesse deixar esse lugar falar com a gente também, essas pessoas, essa cultura falar com a gente e mostrar como ele é. A equipe local, que conhece muito melhor esses lugares do que a gente, que traz muitas soluções, que traz muitas ideias, os atores, os figurantes, enfim. E aí eu acho que por ser muito itinerante, por ser muito cigano, por ser muito nômade dessa produção, a gente conseguiu também ser muito aberto e ser muito maleável. E aí eu acho que isso é o que traz a riqueza do filme.

Arantes reforçou o que o amigo falou:

– Cada vez que fechava uma porta, abria outra. Então, na verdade, foi um processo muito prazeroso, no fim das contas, fazer um filme. Mais do que desafiador, porque sempre é desafiador, mas mais prazeroso do que penoso. 

Júlio ainda agradeceu a oportunidade de poder produzir um filme, e falou ser um privilégio para eles, pois acreditam que a produção se comunica com muita gente: 

– Eu acho que nós somos muito privilegiados de poder fazer um filme e compartilhá-lo. Então acho que também é muito importante reconhecer isso e conseguir respeitar esse privilégio, inclusive, na hora de você fazer um filme e garantir que seja algo que vai falar com as pessoas de uma forma sincera. Porque a gente sabe que não é todo dia, não é todo mundo que é capaz de poder se comunicar com essa quantidade de pessoas que um filme é. Então, mais do que difícil, mais do que penoso, é um grande privilégio.

Por fim, eles contaram uma curiosidade dos bastidores e revelaram que vários figurantes não eram atores. Para eles, foi uma decisão muito fácil:

– São os presentes desses lugares. Toda a figuração ali de Tiradentes era impressionante […] É claro que trabalhar um não ator exige uma abordagem técnica diferente. Não é a mesma coisa que trabalhar com atores, e no trabalho do ator a gente tem que sempre valorizar muito. Mas, no fim das contas, para o que a gente precisava e para o que a gente tinha ali de universo, foi muito bom. Então, é isso, é esse tipo de decisão que a gente tinha. Não tinha um ator para esse papel. A gente estava batendo cabeça com isso. De repente, abre uma porta do outro lado.

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