No elenco da série Tremembé, Letícia Rodrigues fala sobre os desafios de dar vida à Sandrão: ‘Temas sensíveis’
Tremembé, série baseada em crimes reais, retrata o dia a dia da unidade penitenciária conhecida como o 'presídio dos famosos'; a CARAS Brasil conversou com a atriz Letícia Rodrigues, que deu vida à Sandrão
Nessa sexta-feira, 31 de outubro, a Amazon Prime lançou Tremembé. A série ficcional baseada em true crime explora a rotina e os conflitos da Penitenciária de Tremembé, conhecida por abrigar condenados por crimes de grande repercussão nacional, como Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga.A CARAS Brasil conversou com Letícia Rodrigues, atriz que deu vida à Sandrão, condenada a 27 anos de prisão em 2003 por participar do sequestro e assassinato de seu vizinho de 14 anos. Ficou famosa após se envolver romanticamente com Elize e Suzane em Tremembé.“Eu fui consultada para fazer o teste e foram honestos em me contextualizar sobre o conteúdo. Eu não tive, nem tenho, muitas oportunidades de fazer testes, então eu agarrei essa oportunidade com tudo. Quando eu soube que tinha pegado o papel fiquei feliz pelo enorme desafio, sou uma atriz que trabalha há 17 anos, então eu estava preparada para um papel desse, que requer tanto estudo, técnica e disposição”, disse.Apesar de estar preparada, a atriz confessou que teve medo, muito porque, em um papel tão difícil e denso como e de Sandrão, é necessário sentir o que nunca se viveu.“Mas tivemos a preparação conduzida magistralmente por Maria Laura Nogueira e Carol Fabri que foram nosso ponto de apoio e guias. Sobre a reação do público, aprendi que nessa profissão quando compartilhamos com o mundo a nossa criação perdemos também o controle sobre o que ela se torna, não temos como prever as reações, mas podemos torcer que o público queira se engajar nas histórias que escolhemos contar”.Perguntamos à Letícia como foi o processo de encontrar o tom certo entre a dureza e a vulnerabilidade de Sandrão. A atriz admitiu que não foi fácil, já que o processo de toda personagem é difícil.“Eu procurei me desafiar e me libertar de qualquer julgamento ou opinião sobre essa história, o que me ajudou a aprofundar, dar sensibilidade e ter sutileza nesse caminho”.Letícia destacou que o papel dos diretos da série foi fundamental para que se chegasse à construção adequada da personagem.“Temos diretores magníficos, Vera Egito, Daniel Lieff e Fabi Winits que foram nossos grandes faróis, além da equipe artística e técnica, mas também pudemos experimentar e criar, descobrir a cena ali no “ação” e quando estamos muito apropriados de uma pesquisa, comprometidos em contar uma história, o mistério que essa profissão carrega se revela. É um trabalho profundo e essencialmente coletivo”.Na opinião de Letícia, o maior desafio é sempre contar uma história com a maior dignidade que ela merece, mesmo as mais difíceis. Característica que, segundo ela, é muito particular de histórias reais.“Histórias baseadas em vida real tem essa particularidade, ainda mais essas que foram tão extrapoladas pela mídia, são temas sensíveis que custam caro à população brasileira. Então, é um trabalho que precisou ser feito com muito cuidado e responsabilidade e afirmo que todas as pessoas envolvidas nesse projeto se dedicaram profundamente para que isso transparecesse na tela para o público”, disse.Leia também: Tremembé: O que esperar da série de true crime brasileira sobre o ‘presídio dos famosos’“Sou uma contadora de histórias, então, sob esse ponto de vista, de intérprete, foi incrível. Recebemos um roteiro muito bem trabalho, que durou 02 anos para ser construído sob a chefia de Vera Egito e trabalho de Ullisses Campbell, Juliana Rosenthal, Thays Berbe e Maria Isabel Iorio, que já trazia muitos apontamentos e possibilidades para usarmos as nossas ferramentas de atuação brasileira. Era pesado, sim, porque são histórias densas com acontecimentos difíceis de assimilar, mas também um trabalho de composição muito profundo que é o que artistas querem poder fazer”, contou.Letícia destacou que o acompanhamento psicológico foi fundamental para mergulhar na série.“Sou uma atriz que se concentra naquela história dentro do intervalo “ação” e “corta”, ou seja, quando corta, estou já pensando em pegar um café, voltar a crochetar um tapetinho e ouvir uma música tranquila. No meu trabalho eu tento – nem sempre consigo – delimitar bem as áreas de trabalho e descanso para que aquela rotina não me engula. Nem sempre é possível, mas eu me dedico muito em conseguir”.Letícia contou que um momento da gravação foi particularmente marcante para ela. Ela destacou a parceria de Daniel Lieff, um dos diretores da série, que deu um conselho importante durante cenas emotivas e violentas.“Ele me olhou no fundo dos olhos e falou “Lê, é tudo faz de conta, é isso que a gente faz: a gente brinca, mas é mentira” e por mais clichê que isso pareça, era o que eu precisava ouvir para me nortear novamente e voltar à história e ao que estávamos fazendo. Às vezes o nosso corpo não entende que estamos fabricando emoções nele, ele acredita viver realmente e é preciso lembrá-lo e cuidar para que a gente não adoeça ou se afete muito com aquela atmosfera criada”.Letícia possui uma espécie de ‘ritual’ para voltar a ser ela mesma depois das gravações, principalmente após interpretar Sandrão. Ela disse que faz crochê por horas sem seguir uma receita específica, se concentrando apenas nisso.“Converso sobre amenidades, me alimento, bebo bastante água e volto à realidade da minha vida: lavo o quintal para os meus 04 cachorros, arrumo as coisinhas deles, faço comida, arrumo a casa, lavo o banheiro, me atento às atividades práticas do cotidiano e, com isso, me coloco em ordem”.“Quero continuar podendo experimentar desafios tão grandes quanto essa personagem, tenho muitos sonhos, quero contar muitas histórias. Gostaria muito de poder interpretar mais cinebiografias e de artistas, cantoras, por exemplo. Espero que com esse trabalho, mais gente reconheça a minha árdua carreira, a dos profissionais que estiveram conosco na construção dessa obra e que eu possa prolongar a minha vida nessa profissão. Quero ser uma pessoa que pode colocar as contas em débito automático e sonhar com viagens de descanso nas férias, acho que não é pedir tanto assim, né?”, finalizou.
