Rap dá as caras de vez em novo trabalho lançado por Renan Ricio

Apesar de não estar começando agora, Renan Ricio decidiu abraçar de vez o rap com o EP “Viciado em R.A.P”. Com o anterior, “No Fim, Memórias”, o MC carioca passou de meio milhão de streams. Mas dessa vez, ele quer colocar de lado a MPB, R&B e soul, que direcionam o seu projeto de estreia, para mostrar que tem muitas ideias para compartilhar através das rimas, acompanhadas de uma musicalidade orgânica, tendo o boombap como guia principal.
Formado pelas já lançadas “Viciado em R.A.P”, “Cheguei” e “Tchau”, o EP é complementado pela potente “Cor do Crime”. Ambos chegam juntos nesta (dia) nas plataformas de streaming. No single, Renan mostra sua visão sobre um problema estrutural da sociedade brasileira: o racismo. O fio condutor que o levou a escrever os versos foi o assassinato de George Floyd (em 2020) e, principalmente, uma “ação antiracista” organizada por figurões da indústria da música, o “Blackout Tuesday”, que rapidamente foi aderido em diversas partes do mundo.
“Por ter crescido num universo majoritariamente branco, pra mim foi sempre muito difícil expressar a minha insatisfação com o racismo, porque não tinha muitas pessoas para me ouvir.”, observa. “Eu também acabei não entendendo muito bem quem eu era, e isso foi uma construção. Aí, eu percebi que quando comecei a minha carreira musical e quis me aproximar mais do rap, ouvi muito da família e de amigos para não assumir uma postura política ou fazer críticas sociais. “Então, por causa dessas opiniões, acabei demorando um pouco para entender o que realmente eu queria fazer”.
Para o videoclipe de uma música tão significativa, Renan Ricio fez parceria a Swell Produtora, encabeçada por Rafael César, que reuniu uma equipe de produção formada em sua maioria por pessoas pretas, e convidou os coreógrafos Marcelo Vittória (intérprete do jovem negro) e Binho Reis (o policial), e 9 artistas pretos e pretas para fazerem parte do elenco: Renatinha, Carla Moreira, Dândi, Quel, Pedro Blan, Junior do Matte e Ismael Gotthardi). O objetivo dele é trazer à tona sua vivência em relação à questão racial e também dar voz para que cada participante compartilhe sua visão.
“A gente realmente conseguiu construir um audiovisual muito foda, que vai agregar muito mais para a música e vai trazer várias narrativas de casos de racismo que aconteceram dentro e fora do Brasil, trazendo uma narrativa mais poética – não tão violenta”, afirma. “Por eu não ter uma vivência de favela, acho que não estaria sendo real a mim mesmo trazendo uma vivência que eu não tive”.
Das 4 faixas, a “Cor do Crime” é a mais contundente. Porém, todas se complementam, pois abordam temas relacionados à auto-estima negra, críticas ao próprio cenário do rap, à ideologia, à política e ao governo atual. Toda a construção executada em parceria com a Coliseu Records foi arquitetada para apresentar todas as facetas que Renan pode explorar dentro do rap. É um projeto amplo para mostrar toda a personalidade em diferentes vertentes, da crítica social ao romance.
Nesse primeiro momento, Ricio não queria que fosse algo 100% porrada, porque acha que não estaria sendo 100% sincero com aquilo que é. E embora esteja construindo uma narrativa dentro de um gênero que é conhecido pela cara fechada de seus interlocutores, ele também quer falar de amor, de vulnerabilidades e de demonstrar sentimento.
“As letras são fortes, menos comerciais e com foco principal a lírica, métrica e jogo de palavras, características importantes de quem domina a arte das rimas.Tudo que eu gosto de fazer e admiro no rap está incluso nesse trabalho”, diz. “Esse é pra quem gosta de rap no sentido de ler uma poesia e entender o que está sendo dito.A meta é se conectar com quem realmente gosta dessa parada”.