Regina Duarte e política: uma relação explosiva e polêmica
A atriz Regina Duarte, 73 anos, passou nos últimos dias de namoradinha do Brasil para a figura mais atacada pela classe artística nas redes sociais, chegando a figurar nos Trending Topics do Twitter. Assim, ela segue hoje mais falada por sua atuação na política do que por sua carreira de mais de cinco décadas como atriz de destaque na TV Globo, emissora que abandonou para entrar no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), onde ocupa desde março a Secretaria Especial da Cultura.
O motivo para tanto falatório em torno da atriz surgiu na última semana, quando ela decidiu encerrar por conta própria uma polêmica entrevista concedida à CNN Brasil, emissora da qual parecia gostar, já que fez questão de ir à sua inauguração, dois meses atrás, quando posou sorridente frente ao logo do canal noticioso.
Mas, ao ser entrevistada após um período em que chegou a ser ventilada na imprensa a sua possível demissão do cargo, Regina não gostou das perguntas feitas e não deixou ser exibido um vídeo da colega Maitê Proença (no qual pedia que ela olhasse para a classe artística nesta crise do coronavírus). Nervosa, Regina falou que isso fugia do "combinado" e que, ao mostrar Maitê, a CNN Brasil estava "desenterrando os mortos". Durante a conversa, Regina chegou a relativizar as mortes e torturas durante a ditadura militar que vigorou no Brasil entre 1964-1985 e disse que "era tão bom" essa época de nossa história.
A classe artística reagiu à entrevista com várias manifestações online, condenando a postura da atriz e até um abaixo-assinado com assinatura de mais de 500 importantes nomes da cultura e das artes, como Adriana Esteves e Caetano Veloso, exigindo outra postura de Regina frente à Secretaria Especial Nacional da Cultura.
Não é de agora que Regina Duarte mistura sua carreira de atriz com a política. A reportagem de OFuxico lembra, a seguir, alguns momentos nos quais a atriz decidiu se manifestar politicamente.
1978 - Apoio a FHC ao lado de Lula
Ainda durante a ditadura militar, Regina Duarte apoiou a candidatura de Fernando Henrique Cardoso ao Senado Federal em 1978 pelo MDB, posando ao lado dele e do então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula. Com 1,2 milhão de votos, FHC ficou como suplente do colega de partido Franco Montoro.
1984 - Diretas Já
Regina Duarte foi uma das artistas que subiram ao palanque do grande comício feito na Praça da Sé, em São Paulo, na campanha das Diretas Já, que pediu o fim da ditadura militar e a volta da democracia, exigindo eleição direta para presidente. Uma foto da época mostra a atriz no palco ao lado de Alceu Valença e Gilberto Gil, que mais tarde seria ministro da Cultura do presidente Lula entre 2003 e 2008, mesmo cargo que agora Regina ocupa, mas que Bolsonaro rebaixou de Ministério para Secretaria Nacional.
1984 - Visita a Cuba e Fidel Castro
Em 1984, Regina Duarte visitou Cuba a convite do então ditador comunista Fidel Castro. A atriz foi homenageada pela associação cultural cubana Casa de Las Américas, por conta do sucesso na ilha do seriado Malu Mulher, sob direção de Daniel Filho, ex-marido da atriz e com quem ela viajou, além de levar também a filha Gabriela Duarte. Regina foi recebida com honrarias no Teatro Marx de Havana e teve um encontro simpático com Fidel. A atriz também se encontrou com o famoso poeta cubano Nicolás Guillén, também comunista.
1985 - Novo apoio a FHC à Prefeitura
Regina Duarte se engajou mais uma vez na campanha de Fernando Henrique Cardoso, dessa vez à Prefeitura de São Paulo pelo PMDB, mas seu candidato perdeu para Jânio Quadros (PTB), que saiu vitorioso do pleito.
1998 - Reeleição de FHC
Regina Duarte apareceu no horário eleitoral do PSDB pedindo a reeleição de Fernando Henrique Cardoso e também o voto em Mario Covas, do mesmo partido, para governador do Estado de São Paulo. Ela ainda aproveitou o horário eleitoral para falar da compositora Chiquinha Gonzaga, personagem que assumiria em minissérie na Globo no ano seguinte.
2002 - "Eu tenho medo" do PT
Sempre muito próxima de caciques do PSDB, Regina Duarte apareceu em vídeo na campanha de José Serra à Presidência da República em 2002. No vídeo, veiculado no horário eleitoral tucano, com uma encenação dramática ela dizia "ter medo" da vitória de Lula. Desde então, a atriz passou a ser hostilizada por parte da esquerda, e se aproximou mais ainda do campo conservador na política. Ao vencer e tomar posse como presidente em 2003, Lula, fazendo referência à famosa frase de Regina, disse que "a esperança venceu o medo".
2017 - Vassourinha de Doria
Regina Duarte demonstrou apoio ao então prefeito de São Paulo João Doria (PSDB), no segundo dia em que este surgiu nas ruas da capital paulista vestido de gari. Sem contudo vestir também o uniforme dos limpadores urbanos, Regina pegou uma vassoura para fazer fotos ao lado da autoridade e declarou: "Não quero ser política, mas acho que todos os cidadãos devem se engajar", pedindo apoio ao político tucano.
2018 - Pró-Bolsonaro de verde e amarelo
Durante a campanha de Jair Bolsonaro (sem partido) à Presidência da República, Regina Duarte abandonou o antigo apoio ao PSDB e se engajou fortemente como a mais importante aliada bolsonarista na classe artística. Após viajar para se encontrar com o político em sua casa no Rio de Janeiro e declarar que o achou parecido com seu pai militar, a atriz ainda marcou presença no palanque do comício bolsonarista na avenida Paulista, no qual discursou com veemência para os correligionários vestindo as cores da bandeira do Brasil.
2020 - Polêmica na Secretaria da Cultura
Após o que chamou de "noivado" com Jair Bolsonaro (sem partido), Regina Duarte tomou posse em 4 de março de 2020 como a nova secretária da Cultura, substituindo o encenador Roberto Alvim, que deixou o cargo após fazer vídeo no qual copiava a comunicação nazista de Hitler. Após surgir amedrontada em uma entrevista no Fantástico e ficar em silêncio diante da situação vulnerável dos artistas na pandemia do novo coronavírus, a atriz deu uma entrevista polêmica na CNN Brasil na qual relativizou os mortos na ditadura, as torturas feitas pelos militares e também os milhares de brasileiros agora vítimas da covid-19. Regina afirmou que queria ser "leve" e que não queria falar de mortes. Desgostosa com as perguntas feitas e com a participação em vídeo inédito gravado pela colega Maitê Proença (que ela não quis ver), Regina Duarte decidiu encerrar sua participação, dizendo que as perguntas fugiam do "combinado", o que não pegou bem para quem ocupa um cargo público. Um assessor chegou a colocar a mão na lente da câmera da CNN Brasil. A artista foi fortemente condenada pela classe artística nas redes e até em abaixo-assinado.