Saiba o que diz a nova diretriz para diagnóstico e tratamento de Autismo no Brasil
Novo documento orienta profissionais sobre identificação do TEA e indica terapias com comprovação científica
A Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) lançou recentemente uma atualização de sua diretriz sobre o transtorno do espectro autista (TEA), trazendo recomendações atuais para diagnóstico e tratamento. A revisão se baseia em estudos recentes desde a publicação do primeiro documento, em 2021, e visa oferecer orientações mais precisas para profissionais de saúde.O diagnóstico do TEA continua sendo clínico, apoiado na observação da criança, histórico familiar e entrevistas com os responsáveis. Professores e cuidadores também podem contribuir para a avaliação. As informações são do O Globo.Sinais de alerta podem aparecer nos primeiros meses de vida, como falta de contato visual durante a mamada ou pouca vocalização, tornando-se mais evidentes entre 1 e 2 anos. Entre os principais sinais estão dificuldade de iniciar e manter conversas, limitações na interação social, pouca expressão emocional, sofrimento frente a mudanças e comportamentos repetitivos.O ambiente social, cultural e econômico da criança deve ser considerado, pois pode influenciar no desenvolvimento e levar a diagnósticos equivocados. O uso precoce e intenso de telas pode gerar comportamentos semelhantes aos do TEA, mas não tem relação causal direta com o transtorno.“Excesso de tela para criança pequena não causa autismo, não existe uma relação causal direta. Mas é importante a restrição de telas para todas as crianças, tenham ela TEA ou não”, afirma o neuropediatra Julio Koneski, membro do Departamento Científico de Transtornos de Neurodesenvolvimento da SBNI.Ferramentas de triagem, como a Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT), a Escala de Pontuação para Autismo na Infância (CAST) e o Questionário de Comunicação Social (SCQ), auxiliam na identificação, mas não substituem o diagnóstico clínico.“O documento reforça que o diagnóstico do autismo é clínico, que não existem exames laboratoriais. E aborda a importância do diagnóstico precoce, que deve ser feito antes dos 3 anos”, completa Koneski.A diretriz segue o DSM-5, classificando o TEA em níveis de suporte de 1 a 3, considerando a necessidade de assistência nas atividades do dia a dia. Crianças muito pequenas ou recém-diagnosticadas não devem ser enquadradas nesses níveis.Exames físicos com dermatologista, otorrinolaringologista e oftalmologista são recomendados, e o exame neurológico é obrigatório. Testes genéticos podem ser indicados em casos específicos, como histórico familiar ou presença de comorbidades, como epilepsia.As intervenções são mais eficazes quando conduzidas de forma transdisciplinar, incluindo abordagens baseadas em ABA (Applied Behavior Analysis), fonoterapia e terapia ocupacional com integração sensorial.“As intervenções baseadas em ABA variam desde abordagens altamente estruturadas, direcionadas e controladas, até intervenções que podem ser conduzidas por profissionais que se guiam pela liderança da criança e implementadas no contexto natural do comportamento”, explica o documento.Outras terapias, como motora, pedagógica ou mediada por música, podem ser aplicadas conforme cada caso, com frequência e carga horária individualizadas pelo médico responsável.“Não é à toa que a nomenclatura é espectro autista, porque há uma heterogeneidade muito grande. Não tem como abordar terapeuticamente todas as crianças da mesma maneira, isso é muito claro. Cabe ao médico definir as necessidades e direitos do seu paciente junto com a família e à equipe multidisciplinar”, ressalta Koneski.Não existem medicamentos específicos para TEA, mas alguns podem ser usados para tratar sintomas de comorbidades, como agressividade, ansiedade e distúrbios do sono. Técnicas de higiene do sono, reforço positivo, restrição planejada, redução de estímulos, terapia cognitivo-comportamental e educação parental também são recomendadas. Medicamentos e melatonina podem ser considerados como complemento. A vacinação segue normalmente, sem relação com o TEA.A SBNI alerta para técnicas sem comprovação científica, incluindo: ômega 3, vitaminas e suplementos sem deficiência diagnosticada, dietas sem glúten ou caseína, transplante fecal, ozonioterapia, oxitocina, corticoides, células-tronco, óleos essenciais, terapias como Son-rise e Padovan, entre outras.“O surgimento das mídias sociais possibilitou a disseminação de uma grande variedade de informações num curto espaço de tempo, o que fez com que a maioria dos pacientes com TEA use ou já tenha usado alguma terapia alternativa sem eficácia comprovada. A prescrição de um tratamento sem comprovação científica pode causar danos significativos (não apenas financeiros), uma vez que, quando a família decide adotar um tratamento alternativo, muitas vezes abandona o tratamento comprovadamente eficaz”, alerta a SBNI.O canabidiol (CBD) apresenta resultados divergentes em estudos, sem evidência metodológica suficiente para prescrição clínica no TEA. A indicação deve ser considerada experimental e só com termo de consentimento.“Novos estudos devem definir melhor essa eficácia. Hoje, indicar o uso de canabidiol para indivíduos com autismo é experimental e sem garantia de eficácia. Tem que ter isso em mente”, afirma Koneski.O ácido folínico mostrou benefícios clínicos em alguns estudos, mas os resultados ainda são inconsistentes. Abordagens experimentais, como estimulação craniana não invasiva e técnicas naturalísticas como Floortime, também carecem de evidência robusta para recomendação clínica.
