Seu Jorge sobre ‘Manhãs de Setembro’: ‘Homofóbicos precisam assistir’
Uma das produções brasileiras do Amazon Prime Video que mais fez sucesso entre o público foi “Manhãs de Setembro”, cuja segunda temporada está prevista para estrear na plataforma de streaming no próximo dia 23 de setembro.
A trama acompanha a vida de Cassandra (Liniker), uma mulher trans cuja vida muda drasticamente após o reaparecimento de seu filho, Gersinho (Gustavo Coelho), fruto da relação com a ex-namorada Leide (), virando sua vida de cabeça para baixo de forma inesperada.
Em coletiva de imprensa, na qual OFuxico esteve presente, os três atores citados, juntos de , , o diretor Luís Pinheiro e Malu Miranda (Head de Conteúdo Original Brasileiro para o Amazon Studios), foram revelados mais detalhes dos novos capítulos da série.
Um dos grandes destaques com certeza foi a adição de Seu Jorge como Lourenço, pai de Cassandra, que tem um relacionamento com Ruth, personagem de Samantha, trazendo boas trocas no set:
“Leide e Cassandra possuem um arco muito interessante, e vinda do Seu Jorge como pai da Cassandra trouxe um impacto muito grande, como atriz, foi muito bonito atuar ao lado dos dois, de artistas tão grandes como eles. Foi uma troca muito boa”, disse Liniker
Karine Teles afirmou: “Sou fã do Seu Jorge há muito tempo, e acompanhei a evolução dele como ator, estava animada para a gente interagir em frente às câmeras, e foi muito marcante. Ele e a Samantha se integraram lindamente ao elenco, são atores muito generosos e disponíveis para o jogo. Ouvir a voz do Seu Jorge todo dia foi maravilhoso”
IMPORTÂNCIA DA ATRAÇÃO
Em seguida, Seu Jorge agradeceu tanto o carinho das colegas de trabalho quanto ao diretor Luís Pinheiro pela oportunidade de viver Lourenço: “Quero agradecer os comentários dessas duas atrizes maravilhosas, e agradecer ao convite do Luís Pinheiro, foi muito legal participar do projeto. Tive contato com algumas cenas e fiquei contente demais. Estava todo mundo entregue”.
Ele então descreveu um pouco de como vê a história: “Flui tudo natural, um jogo bonito, de uma história bonita. É muita briga, mas tem tanto amor nesses personagens que ficaram momentos muito marcantes nos episódios”.
O artista ainda mandou um recado: “Acho que todo homofóbico tem que ver essa série, mostrar como essa família é incrível, forte e está inteira mesmo não sendo o que é considerado tradicional, sendo vista até como improvável. Temos que abrir a cabeça dessas pessoas. Muito honrado em ter participado”.
Malu Miranda reforçou como o objetivo da série era exatamente mostrar essa diversidade: “O mundo é diversifico, o ser humano também, e tudo que a gente faz, se tratamos com autenticidade, tudo vai ser diverso. Contar a história da pessoa com profundidade já é muito diverso por si só”.
“As pessoas podem não querer mostrar a realidade, mas nessa série, a nossa obrigação e da Amazon Prime Video, é mostra a realidade, que a família é aquela que a gente escolhe, é essa diversificação que vemos em tela como aqui, com um elenco incrível”, completou ela.
CONTATO COM TEMAS NECESSÁRIOS
Seu Jorge em outro momento reforçou a importância da série no âmbito da diversidade e representatividade: “O grande desafio e a coisas mais bonita para mim foi ter aprendido muito com a Liniker, que me ensinou muito. Parte da minha preparação foi assistir uma palestra de um homem trans mostrando como enxergar o mundo da melhor maneira e de entender a necessidade de lutar pela causa.
“Posso dizer que essa bandeira é minha agora também. Ainda, foi bacana ver a diversidade e a representatividade dentro do set de verdade, sendo representada em sua mais ampla escala”, garantiu ele.
Ele continuou: “[…] Entender o Lourenço era entender um homem negro morando em uma cidade pequena no interior do Paraná, e eu queria construir um cara que não entendia nada e não esperava encontrar nada”.
“Ele tinha uma vida muito feliz, mas carrega uma tristeza de ser o pai e talvez o marido que ele queria, sem falar no mundo que muda tão rápido enquanto ele vive em um lugar que as coisas andam mais devagar”, disse o também cantor.
CENA FORTE DE TRANSFOBIA
Ainda falando da diversidade, Liniker comentou sobre uma cena do primeiro episódio da segunda temporada na qual Cassandra é vítima de transfobia quando estava viajando com Leide: “Foi uma das cenas mais difíceis de fazer nas duas temporadas, e sou muito grata de ter tido a Karine ao meu lado. A violência contra pessoas trans acontece todos os dias, nossos corpos sempre são alvo de transfobia. Estamos constantemente sendo alvos, e silenciamos sozinhas para que a violência não aumente”.
“O preconceito sempre surge quando estamos em paz por meio das pessoas, e isso acontece nessa cena, e a Cassandra consegue sentir uma segurança em não estar sozinha para agir ao não ver para onde fugir quanto a Leide entende o que a Cassandra tanto falava viver todos os dias”, explicou.
“Isso exigiu muito da gente física e mentalmente. Mas foi uma honra ter feito uma cena na qual parti para a briga ao invés de me calar como geralmente acontece. Sinto a Cassandra e a Liniker se vingando um pouco. Não há nada pior para mim na transfobia do que sofrer uma violência e ter que ensinar. A educação é de uma bela grandeza, mas ela fica muito atrelada a quem está sofrendo, e não há nada pior para mim de ter que explicar que a pessoa está sendo transfóbica. Essa cena dá voz para muita gente cansada de ser silenciada”, declarou a cantora.
EVOLUÇÃO COMO ATRIZ
Ainda, ela comentou sobre sua evolução como atriz no papel: “Por mais que seja atriz de formação, eu não tinha feito um trabalho no audiovisual tão grande. Fui muito acolhida pela direção e o elenco criou uma relação afetiva que ajudou demais”.
“Como pessoa preta, a gente acha muito que só podemos ser boas em um lugar, mas as trocas que eu tive me deram segurança para entender que eu estava empenhada dentro deste projeto, e foram me fazendo evoluir como atriz. […]”, continuou
“Também fico muito honrada de dar vida a uma personagem trans sendo tratada com a grandeza que merece, tendo família, que acerta e erra, foi incrível isso e atuar ao lado de atores que admirava antes. Seu Jorge foi muito legal comigo, Samantha me ensinou muito também, com Karine e Gustavo estava construída já. Quando temos um set atencioso e disponível, as coisas fluem bem de maneira inesperada”, revelou Liniker.
RELAÇÃO COM A MATERNIDADE
Liniker também falou de como foi sua relação com viver o pael de uma mulher trans que é mãe: “A Cassandra parte de um ponto de vista considerado impossível para uma mulher trans nessa sociedade e a violência que a gente atravessa só para tentar existir, e a chegada de uma criança balança isso ainda mais”.
“Para mergulhar nessas relações e entender essa maternidade, busquei na minha família as inspirações, como a minha mãe que me criou sozinha, meu pai que me abandonou quando criança e como essa personagem poderia contribuir com a chegada de uma criança como o Gersinho sem perder a independência da Cassandra”, falou ela.
“[…] Uma das coisas que a série me trouxe, que eu já tinha e cresceu, foi essa vontade de criar, de ser mãe, se ver transformada a partir de um afeto, e pude entender isso nas gravações, como conversando com a Karine, que é uma supermãe além das telas. Foi muito bonito ver as mães que já são mães no set e conversar com eles, e me ver nesse processo de querer gerar”, concluiu.
MATERNIDADE DENTRO E FORA DAS TELAS
Karine Teles complementou a fala de Liniker: “Tem muita coisa sobre maternidade nessa série sob vários pontos de vista. A Samantha é uma mãe que já tá com ninho vazio, a Leide está cansada da maternidade, e por aí vai. Agora, ela vem entrando em um momento de conflito com a Cassandra por causa da solidão que a maternidade gera naturalmente, que muita gente não sabe”.
“[…] Pude emprestar para a Leide um pouco do que senti como mãe, e o resto fui encontrando durante as gravações, como entender porque a Lady comete tantos erros. Aprendi muito com ela sobre os erros, sobre saber seguir em frente e se recuperar, e tá sendo um arco muito bonito isso, além de me fazer me sentir menos culpada na vida pessoal, algo que vem na maternidade além da solidão, então foi muito interessante ver esse arco”, concluiu a atriz.
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