Tatiana Tiburcio, Carla Cristina e Ícaro Silva e refletem sobre importância do clube Gente Fina em Garota do Momento

Garota do Momento, próxima novela das seis da TV Globo, ainda nem estreou e já está sendo coberta de elogios por todo o elenco e produção da trama, escrita por Alessandra Poggi. Durante coletiva de imprensa, da qual o Fofocas e Famosos participou, os atores ressaltaram a importância da representatividade e do protagonismo negro no folhetim.

Um dos pontos mais marcantes da história é o clube Gente Fina, fundado e administrado pelos personagens Vera [Tatiana Tiburcio] e Sebastião [Cridemar Aquino]. No local, frequentado por pessoas negras, são tocados samba e rock, representando a efervescência cultural do Brasil de 1958. Tatiana começou o bate-papo exaltando a forma como o casal é retratado:

– É difícil falar de maneira muito reduzida a importância de retratar um clube de pessoas negras em uma década como a de 1950; e ainda refletindo para hoje. É difícil resumir isso. Mas acho que é um golaço da equipe toda e uma ousadia. Trazer isso para a cena, mas principalmente, trazer da forma como está sendo trazido. De uma maneira naturalizada, como deveria ser. Humanizada, principalmente, fundamentalmente. Você tem personagens, esses dois em particular [Vera e Sebastião] – colocados como seres humanos, e não como um estereótipo militante; sem nenhum demérito à militância. 

E revela que a humanização dos personagens foi principal motivo pelo qual decidiu aceitar o convite para integrar o elenco da novela:

– O gol, para mim, está na humanização desses personagens, em colocá-los dentro de um contexto de participação dessa história. Dessa história de Brasil, dessa de sociedade, para além da ficção. Acho que isso que me seduziu muito em aceitar o convite; de ver os meus, a minha história, a minha ascendência sendo representada de uma maneira participante na construção de tudo isso.

A atriz também explica que todos saem ganhando com essa representação:

– É uma parte da história que não é muito retratada, mas que é parte dessa história, de forma muito fundamental. Quando você fala de rock’n roll, você está falando dessas pessoas. Quando você fala de samba, de cultura, de sociedade, da construção econômica dessa sociedade, você está falando dessas pessoas. Dessa galera que forma o Clube Gente Fina, entende? Então, poder ver isso sendo retratado com leveza, discurso, humanidade, complexidade, é muito bacana. E acho que todo mundo ganha, não é só a gente que está sendo retratado ali, mas a gente ganha enquanto sociedade e com leveza, que é o principal, que eu acho que é a maneira mais efetiva de chegar no coração das pessoas.

Ícaro Silva é quem vive Ulisses, filho de Vera e Sebastião. Animado com a trajetória e força de seu personagem na trama, ele ressalta que o jovem vê seus pais como grandes exemplos e está sempre buscando honrar sua ancestralidade. 

– O Ulisses tem uma ancestralidade que vem na figura da Vera e do Sebastião, que são exemplos vivos. Ele tem no sue sendo se coletividade a consciência de que tem muito chão para percorrer e ele está no meio do caminho. Aí que a gente se identifica. Ele tem uma vontade, uma gana de viver muito grande por saber que a vida passa. Os jovens dessa época tem um senso de juventude talvez mais apurado ainda, porque já estão olhando e pensando na vida adulta, de ter que casar e pagar as contas. 

Em seguida, confessa que sempre fica emocionando ao ver Duda Santos brilhando como a protagonista Beatriz em Garota do Momento e a vendo crescer profissionalmente. 

– A Duda me emociona o tempo todo em cena, saber que estou fazendo a novela da Duda e que ela é a Garota do Momento. Isso me emociona muitas vezes durante o dia, no meio da gravação, porque ela parece a realização de um sonho meu. Ver uma menina de 20 e poucos anos com uma trajetória tão bonita, fazendo um personagem lindo atrás do outro. A protagonista dessa novela tão especial é muito poderoso. Acho que é assim que o Ulisses olha para a Beatriz também. 

Carla Cristina, que dá vida à Iolanda, dona da pensão em que Beatriz se hospeda ao chegar no Rio de Janeiro e que tenta seduzir Ulisses, disse que se identificou muito com o clube Gente Fina por ter uma experiência pessoal com bailes de samba e soul. 

– O clube, que a gente tem como referência é o Renascença e eu cresci com a minha indo lá curtir um baile, um samba. Minha mãe e minhas tias sempre foram lá. Era o clube do final de semana, para a galera curtir um soul, James Brown, Bebeto. O Gente Fina tem uma coisa de família, o que não é novidade para mim, pois vi a minha se reunindo no clube que ela frequentava. Estou muito feliz de estar com esse elenco.

Tatiana também contou que cresceu vendo sua família dançar muito em clubes no interior do Rio de Janeiro. Todos os seus tios se jogavam na pista de dança e cativavam com seus passos.

– É muito bacana essa relação que a gente tem com esse clube, que parece que é parte da nossa vida mesmo. Sou do interior do Rio de Janeiro, nasci no Rio, mas fui criada no interior, em Casimiro de Abreu. E a minha família é uma família grande. Minha avó teve 11 filhos, então tenho 11 tios. E lá tinham os seus clubes. Tinha um clube, na verdade, que frequentavam majoritariamente pessoas pretas porque nos outros clubes elas não podiam entrar. E a minha família, meus tios, minha mãe chegavam no clube e era aquela coisa: Os Tibúrcio chegaram. E eles dançavam muito. Meu tio Ed, meu tio Babal, eles dançavam muito, tiravam muita onda dançando.

Em seguida, destacou que era um local de autoafirmação e valorização.

-Eles trabalhavam aqui no Rio, voltavam no final de semana para reinar no seu Gente Fina. Enquanto esses lugares eram e ainda são de alguma maneira; porque hoje esses clubes se diversificaram em rodas de samba, em viadutos, em outras formas de acontecer, mas ainda com o mesmo princípio de identidade, de valorização de uma identidade, de encontro, de fortalecimento. Lugares onde a nossa beleza, a nossa cultura, os nossos modos, os nossos fazeres são reconhecidos e valorizados. Onde a gente se recarregava para seguir adiante.

Tati também conta com entusiasmo como sua mãe fica animada ao vê-la com o figurino da personagem. As tias da artistas também se encantam com a caracterização e se enxergam em Vera.

– Costumo dizer no camarim que todo figurino que eu coloco, tiro uma foto e mando para a minha mãe. E ela fica toda feliz. Ela fala: Nossa, que lindo! Traz pra mim. Ela se vê, isso é muito bacana. A novela nem estreou e ela e as minhas tias se veem ali, sabe? E se veem num lugar de autoafirmação, onde a gente está falando das nossas questões que passam por um lugar de dor, de incômodo. 

Por fim, explica como o feminismo da mulher negra é diferente da mulher branca e que isso é retratado na novela em uma cena com Palomma Duarte, que interpreta Lígia, abandonou a família quando os filhos ainda eram crianças para trabalhar como cantora.

– Tem uma cena linda com a Palomma [Duarte], que a gente fala sobre isso, dessa diferença dos feminismos. Que a gente fala o feminismo como se fosse uma coisa só. E o que uma mulher negra vive enquanto mulher, como mulher, não enquanto como mulher. É completamente diferente do que uma mulher branca vive como mulher, que uma mulher indígena vive como mulher. Até mesmo que uma mulher nordestina, porque ainda entram outras camadas, que são as regionais. Esse privilégio, essa predominância de determinadas regiões em cima da manifestação cultural de um povo, em um país de dimensões continentais como o nosso. Então, você vê os seus se reconhecendo em você, num lugar que eles sabem que existe e que era praticamente não visto. 

Carregar Mais Notícias